Nesse domingo, 26 de janeiro, mais uma edição do Grammy aconteceu e a expectativa dessa ser uma edição diferente era grande. Não só por nomes como Lil Nas X, Tyler the Creator, Lizzo e H.E.R. terem dominado as indicações, assim como uma homenagem a Nipsey Hussle ter sido anunciada, mas pela cobrança e pressão de público e artistas por mudanças reais na premiação. Outras cobranças mais fortes acusavam o Grammy de ser racista, uma vez que artistas negros aparentam ter pouca ou nenhuma chance nos principais prêmios, fazendo com que essa edição tivesse a chance de promover a mudança. Mas não foi o que aconteceu.

Há quem diga que isso não é verdade e que dessa vez a desculpa foi da simples existência de uma artista como Billie Ellish, que abocanhou os principais prêmios da noite, só que o problema é que a tendência de artistas brancos levarem os principais prêmios continua. Apenas como comparação, artistas como Beyoncè, Lizzo e H.E.R. estavam nas mesmas categorias, e ainda assim a jovem promessa venceu. Engraçado que a própria Billie Ellish reconheceu que não imaginava vencer, e não pareceu ser da boca pra fora, o páreo realmente era duro. Não para a academia, que após ser acusada de privilegiar artistas mais experientes, que mostraram mais longevidade, mirou numa artista jovem. O problema é que não tem como corrigir um problema em detrimento de outro. O racismo ainda é uma questão nas grandes premiações americanas. 

Billie Eilish levou pra casa o prêmio de revelação, canção do ano, melhor álbum pop e melhor álbum do ano no Grammy 2020
Billie Eilish levou pra casa o prêmio de revelação, canção do ano, melhor álbum pop e melhor álbum do ano no Grammy 2020

Recentemente, o Oscar, premiação de filmes, buscou reparar seus erros e passou a olhar com uma atenção mais especial para atores, atrizes e diretores negros, tanto que produções como Moonlight puderam ganhar o prêmio de melhor filme. Mas por que será que algumas premiações estão conseguindo mudar e outras não? A indústria da música sempre se mostrou como a das mais lentas a promover mudanças, tanto que olhando para um passado recente, o streaming tomou de assalto o mercado de LPs e CDs. 

Desde então, nada foi igual, a não ser a lentidão dessa indústria em se adaptar. O Grammy é o maior exemplo disso e mesmo reverenciando Prince, com uma bela homenagem trazendo Usher, FKA Twigs e Sheila E., percussionista da banda do músico para homenageá-lo, além de diversas apresentações como a de Gary Clark Jr., a própria Lizzo e, deixando a questão de raça, mas mirando em artistas fora dos EUA, Rosalia, espanhola sensação que vem dominando as paradas mundiais. 

Mesmo após criticas e boicotes, Grammy ainda mostra dificuldade em reconhecer o rap como música

Não são apenas reclamações, pois a quantidade de prêmios que Beyoncè e Jay Z ganharam em comparação a alguns artistas brancos como Adele é ridícula. Vemos uma situação conflitante: de 70 indicações, Beyoncè levou 24, enquanto Jay Z, de 77, levou 22. Adele foi indicada em 18 e levou 15 pra casa. Ao mesmo tempo que Georg Solti é um maestro negro, belga, que possui o maior número de Grammys, 31, sendo acompanhado na sequência pelo super produtor Quincy Jones, tendo 28. Isso mostra que o problema talvez não seja racismo, apenas, mas questões com a música negra contemporânea. 

Se você pesquisar na web “Grammy racista” vai encontrar uma boa quantidade de textos (em inglês) falando sobre essa aversão do prêmio a artistas negros. Sendo do rap então, esqueça! A categoria de rap estreou em 1989 tendo Will Smith, o Fresh Prince, e o DJ Jazzy Jeff levando o prêmio, mas no mesmo ano, o programa Yo! MTV Raps promoveu uma festa anti-Grammy porque a categoria rap não estava na parte transmitida do evento. Se você já assistiu a alguma edição, sabe que alguns prêmios são dados antes, fora da transmissão ao vivo. 

Mesmo após criticas e boicotes, Grammy mostra dificuldade em reconhecer o rap como música e  premiar artistas negros nas principais categorias.
DJ Jazzy Jeff e Will Smith no Grammy

Você sabia que artistas como The Fugees, Nelly, Missy Elliott, Kanye West, Lil Wayne e Drake foram indicados a Álbum do Ano, mas não ganharam o prêmio? Talvez todos nós estejamos sendo inocentes, já que em 2018 algo parecido aconteceu com Jay-Z (4:44), Kendrick Lamar (DAMN!) e Childish Gambino (Awaken, My Love!) que foram indicados a Melhor Álbum do Ano, mas foram superados por Bruno Mars. Nesse caso, ok, Bruno Mars não é branco, mas é um artista pop e o gênero rap e R&B mais uma vez foram barrados. Olhando pra trás, Lemonade não levou em 2017 e é um dos álbuns icônicos da história da música.

Isso tudo nos mostra que o formato está ultrapassado e não foi na edição de número 62 que mudou isso, ou seja, esqueça qualquer possibilidade de mudança em um curto prazo. Ruim para o próprio Grammy, que a cada edição fica menos relevante.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

2 + 20 =