A gente precisa de um salvador. Eu sei, essa é a única sensação possível no momento em que estamos vivendo no Brasil. É quase como se a gente sentisse que apenas forças sobrehumanas poderiam resolver o problema e tornar as coisas minimamente decentes.

Só que não existe salvador. Não existe profeta nenhum por aqui. Simplesmente porque somos humanos. E humanos são falhos.

Eu entendo o medo, o desespero, a impotência. Entendo trabalhar o mês todo, dois ou três meses talvez, pra comprar aquele celular – que nem é o que você queria mesmo, mas foi o que deu – e ele ser roubado no ônibus por um moleque que devia estar na escola.

Mas como a gente resolve isso? A gente condena toda a existência desse moleque ou a gente encontra caminhos pra que ele vá pra escola e acredite que pode ter uma vida melhor? Não é mais apenas sobre oportunidades, sabe, é sobre acreditar que realmente vai ser entregue o que é prometido: uma vida com possibilidades. Porque, vamos ser sinceros, escolher entre ocupações que não são seu sonho não é possibilidade, é necessidade.

O voto está diretamente ligado a isso. O que a gente espera pro país? Pra nós mesmos? Pras pessoas ao nosso redor? Nesse momento é fácil ser egoísta e pensar só na gente, mas será que isso não vai criar uma estrada direta pro caos daqui algum tempo?

A gente é imediatista, quer que tudo funcione como um controle remoto ou internet com conexão boa. A gente espera apertar um número na urna e ver a mudança acontecer ali na nossa frente, num piscar de olhos. Não é assim que acontece e qualquer pessoa que prometer isso está mentindo.

O Haddad é bom demais pro PT. Eu sei e você sabe. É um cara que se estivesse em outro partido teria voado no primeiro turno mesmo. Mas é um cara que acredita em algumas das coisas mais bonitas do PT: que as pessoas importam.

Cara, você importa. Sua família importa. Seus amigos importam. Tanto faz quanto você tem na sua conta bancária ou qual cargo você ocupa. Você importa e merece ter uma vida confortável. Grana no bolso. Tênis da hora no pé. Celular bacana. Comida gostosa na mesa. Dieta equilibrada. Café da manhã da Xuxa.

Mas só sabe o peso disso quem consegue olhar pra pessoas e ver nelas humanidade.

O outro não se importa comigo nem com você. Preto, mulher, viado, sapatão, nordestino… pra ele é tudo lixo. E, olha pra você, não tem lixo nenhum aí. Você sabe do seu corre, sabe da sua luta, sabe do tanto de coisa boa que tem dentro de você.

Assim como o Haddad é bom demais pro PT, você é bom demais pro Bolsonaro. A verdade é essa. Eu sei que parece que é o caminho que faz sentido porque soa como diferente de tudo que a gente já tentou, mas não é. Eu sei que dá aquela esperança de acabar com o crime, mas só vai aumentar a violência que a gente sofre e foder (desculpa a palavra, mas é a verdade) com nosso futuro.

Esperança só serve pra alguma coisa que a gente usar de maneira racional, se juntar informações, planos de governo, falas e posturas. Sem isso a gente só tá jogando nosso futuro na mão de quem parece mais fácil. Mano, é o seu futuro. Pensa bem onde você vai jogá-lo.

LEIA TAMBÉM
Eleições 2018: Bolsonaro é o candidato da morte
Eleições 2018: O desespero do caçador

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

5 + nove =