– por Carol Patrocinio (@carolpatrocinio)
O rolê das minas é diferente. Essa é a única frase possível para começar esse texto sobre o disco que o Rimas & Melodias acaba de lançar. O rolê das minas é realmente diferente. Não melhor ou pior. É uma movimentação totalmente diferente do que a gente está acostumada no rap. É sangue, lágrima e emoção à flor da pele. É luta pela sobrevivência e pedido de silêncio para ser ouvida. O rolê das minas é outro.
Tudo isso tá ali nas 7 faixas no disco. Cada uma em um estilo único, mas que se conversam sem brigar, assim como as 7 mulheres incríveis que se propuseram a encarar esse desafio, ou que foram levadas a ele sem nem saber o tamanho da treta que seria.
Os flows, as sonoridades, as melodias, tudo isso te pega. Mas as letras… as letras são daquelas que conversam com a gente. Você se vê ali, você sabe como é aquilo, suas amigas também. É um rap que fala diretamente com as mulheres porque vem de outras mulheres. E nossas vivências, por mais duras que sejam, nos unem. Por mais que deixem marcas irrecuperáveis, nos mostram que estamos juntas com outras mulheres. E isso tem um poder incrível.
É um disco de minas pra outras minas, mas que os caras espertos podem usar como aulas para se tornarem pessoas melhores.
Além de tudo isso tem o respeito que é quase palpável. Cada uma daquelas mulheres respeita a outra. Cada uma tem um olhar de admiração sem competição. Elas estão juntas, criando lado a lado, sem querer tomar a frente. O rolê das minas é diferente, eu disse. Pra mim, a música Origens é uma das que mostra isso com perfeição: a DJ é incluída com o mesmo destaque que as Mcs. Quando a gente vê isso? Quando a DJ é reverenciada dessa maneira? No show, então, isso fica ainda mais claro: o palco se abre e o foco se torna aquela mulher que acostumou a ficar no fundo. Por mais que o rap tenha a cultura de enaltecer o DJ, ainda falta muito e essas minas mostram uma das maneiras de fazer.
Quando soube que Alt Niss, Drik Barbosa, Karol de Souza, Mayra Maldjian, Stefanie Roberta, Tássia Reis e Tatiana Bispo se uniram em um coletivo o coração chegou a bater mais forte, mas junto bateu aquele medo de sempre: será que vai rolar? Porque o mundo conspira contra, luta para que as minas não estejam juntas, cria empecilhos pelas mãos dos caras (e não vamos fazer de conta que não) e coloca mais obstáculos quão maiores as pessoas ali são e podem ser. Mas hoje, com o disco na rua, a vitória não é só delas, é de todas as minas que estão no rap, que sonham em fazer rap e não conseguiam enxergar uma maneira de estar perto de quem vive o mesmo que elas.
O destaque fica para a faixa “Manifesto / Pule, Garota”, que conta com todas as MCs, DJ e tem a participação especial da Djamila Ribeiro, filósofa e grande nome no feminismo. O tema não poderia ser mais atual: o lugar em que as mulheres são colocadas e como nossa união não vai mais deixar que isso aconteça. Em dado momento, com a voz doce de sempre, Alt Niss lança a frase que vai fechar esse texto porque diz muito sobre o sentimento que esse disco causou em mim e espero que cause em você:
“Você tava olhando pro umbigo enquanto eu fazia a bomba pra foder o mundo dos caras!”
Perdeu. Agora é delas. Nosso. Das minas.
Ouça o disco Rimas & Melodias:
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