O rap é um gênero musical em constante transformação. Talvez daqui a algum tempo possamos definir todas as suas ramificações com mais precisão, porém há um movimento notório que já vai além do que hoje identificamos como trap. As variações sonoras são extensas, há uma imensa gama de novos artistas, conceitos e o que vemos é um bonde passando pelos olhos dos saudosistas do gênero.
Exemplo disso, são nomes como Tierra Whack. A americana de 25 anos teve seu álbum de estréia em 2017, intitulado “Mumbo Jumbo”. A faixa homônima do disco traz uma letra propositalmente quase impossível de se entender. A música lhe rendeu uma indicação ao Grammy Awards, maior prêmio de música global. Neste mesmo ano, a artista saiu em turnê com o renomado Flying Lotus, com quem mais tarde faria participação na faixa “YellowBelly”
Tierra é uma surpresa que pode ser considerada estranha aos ouvidos, mas é perfeita mesmo assim. Nada pretensioso, mas certamente com muita consciência do impacto que seu trabalho nos traz. Difícil encaixá-la numa única gaveta. Soa muito como um R&B alternativo, contemporâneo, às vezes pop-rap, às vezes trap. Existem elementos de um rap mais comercial, no entanto com uma liberdade criativa impressionante e Tierra amalgama tudo isso e funciona muito bem.
Fã declarada de Lauryn Hill, Busta Rymes, Andre 3000 e Kelys, Tierra escreve desde pequena, participava de batalhas de rima em Georgia, Atlanta, mas sentia que este espaço, o das batalhas, a limitava em suas aspirações artísticas. A cantora diz que tudo ao seu redor a inspira, desde Vila Sésamo a qualquer relação com comida, relações com pessoas aleatórias, fragmentos de conversas, trivialidades diversas, tudo constrói uma narrativa.
Quando nos depararmos com seu trabalho, somos bombardeados de sensações não óbvias pelo trabalho da artista. Ora bizarra, ora graciosa, ora sombria, ora cômica, suas músicas são amparadas todas por um trabalho audiovisual.
Em 2018, lançou o “Whack World”, projeto multimídia com um total de quinze músicas de um minuto. Aclamado pela crítica por seu formato incomum, foi premiado pela conceituada Pitchfork e elogiado por editoriais como a Vice.
Produzindo constantemente, em 2019, lançou um single por semana numa série chamada #wackhistorymonth. Tierra possui ainda músicas gravadas com Meek Mill e Childish Gambino, que ainda não foram lançadas. No entanto, a artista não costuma prever um “próximo disco”,prefere manter seu processo criativo sem precisar se atropelar nem enlouquecer por conta de prazos.
É importante observar que no rap, Tierra pode ser considerada como um nome a se destacar hoje em dia, de mulher a fazer arte pela arte. Isso se considerarmos uma indústria musical que sempre nos apresenta artistasfemininas vinculadas a um forte apelo sexual. Ir à contramão disso tudo é remar contra uma maré poderosa, não é pra qualquer uma. No entanto, podemos citar a prestigiadíssima Missy Elliott e Solange Knowles.
Tierra Wack faz parte do catálogo da Interscope hoje em dia, e é possível conferir seu trabalho em seu canal no Youtube e serviços de streaming. Apresentações em festivais como Coachella, no canal de Youtube da Color e seu feat bombástico com Alicia Keys no Afropunk valem o play, assim como sua aparição em “MyPower”, a qual Tierra foi uma das artistas escolhida a dedo para o projeto de Beyoncé.