Filipe Ret foca suas rimas no tema amor e mostra que sua carreira poderá ser muito mais duradoura do que qualquer fã ou hater poderiam imaginar

– por Eduardo Ribas com contribuição de Felipe Leandro

O peso de um primeiro álbum para um artista, do gênero que for, é enorme. Seu sucesso ou seu fracasso pode ditar todo o futuro de uma carreira, mesmo essa sendo uma equação com muitas variáveis. Esse primeiro trabalho pode se tornar um grande sucesso, trazendo uma responsabilidade ainda maior para o artista que, pressionado, pode não repetir a boa performance inicial em seu segundo disco. E em muitos casos é isso que ocorre no mundo da música. Pense em quantos cantores e grupos tiveram um único sucesso, que fizeram um único disco vender muito, e depois, simplesmente sumiram do mapa? Se existe uma seleção natural no meio da música, então é nesse momento que ela parece se manifestar.

Filipe Cavaleiro de Macedo da Silva Faria, ou como é conhecido no rap, Filipe Ret, traçou um caminho diferente e começou mais no sapatinho e, três álbuns depois, chegou pesado. Formado em jornalismo por insistência da mãe, foi em 2003, aos 18 anos, que ao subir no palco pela primeira vez em uma batalha da Liga dos MCs, na Lapa, encontrou seu rumo.

Parte da efervescente cena do KTT (Catete), estreou na música com Numa Margem Distante (2009), álbum que traz temáticas focadas na família, amigos e indignações traduzidas em questionamentos dos rumos da sociedade. O disco acabou servindo como um aquecimento para seu próximo lançamento, Vivaz, surgido três anos depois e promovendo uma grande projeção ao público, criando manchetes que chamavam Filipe Ret de ‘o sucessor de Marcelo D2’. 

Com influências de jazz e blues, o disco mostrou o caminho de evolução de seu trabalho, começando a se desapegar de influências que aparecem em seu trabalho, como a levada que lembrava a do rapper Shaw ou as temáticas 4 e 20 de Marcelo D2 e ConeCrew Diretoria, trouxe elementos clássicos do rap como colagens, scratches e samples. Vivaz contou com participações dos conterrâneos Daniel Shadow, Funkero e o paulista Nocivo Shomon e rendeu aos fãs o hit “Neurótico da Guerra”.

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No entanto, foi em seu terceiro álbum que Filipe Ret realmente mostrou a que veio. Lançado pela Skol Music, o disco Revel teve todo o aparato que um artista poderia querer: produção de primeira linha, participações de peso e um single forte para abrir os caminhos, “Invicto”, que contou com um clipe bem produzido e muito reproduzido na MTV.

Diferente de seu início de carreira, em que mais rimava do que cantava, Ret agora lembra mais um cantor de funk ou charme que um MC. No álbum, o rapper segue um caminho mais pop e despeja um repertório quase que 100% focado no amor, de diversas formas, entre conquistas, desilusões na vida e sua busca pelo impossível (“Só o impossível me interessa” – Invicto). Cabe aqui uma comparação com o estilo do rapper Future, uma vez que ambos trazem em seu canto uma emoção crua, que parece vir das entranhas.

Revel mostra também que a força do pensamento positivo e uma crença nessa mentalidade pode te levar longe, junto disso ele coloca nas letras o que seus haters pensam dele, de seu jeito marrento e o quanto eles perdem tempo falando de Filipe Ret. Um disco recheado de motivos pra você se erguer e transformar seus sonhos em metas e depois em realidade. Motivação não vai faltar ao ouvir frases como “O mundo é pequeno, minha ambição é maior” e “Só quem se arrisca merece viver o extraordinário!”.

Um viés técnico
– por Felipe Leandro

Orquestrada pelo produtor e DJ Zegon, a produção está excelente: timbres 808 com influência trap que trazem o peso presente em boa parte das faixas, sintetizadores muito bem montados e uma pitada de instrumentos orgânicos deixando as músicas bem “pista”. Até mesmo voz e violão marcam presença em “Livre e Triste”, última faixa do álbum.

Quem acompanha Filipe Ret desde seus primeiros trabalhos pode não ter apoiado sua guinada pop, suas letras suavizadas e o aumento de seu público, mas a lembrança de sua trilha de progresso com evolução de rima, produção e variedade de temas mostrada ao longo da carreira, projeta um artista que deixa de ser apenas promissor, mas que não cansa de expandir seus horizontes.

Ouça Revel, de Filipe Ret:

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