Abebe Bikila transformou o dia 7 de setembro pra sempre. De um feriado completamente sem representação para a maioria dos brasileiros para um o dia que o rapper lançou seu terceiro álbum e nele, Bk se coloca entre um dos maiores da cena do rap mundial. Isso mesmo, mundial. Afinal, quem emplaca 3 ótimos trabalhos não merece passar batido. De “Castelo e Ruínas”, que colocou o holofote naquele menino de 27 até “O Líder em Movimento”, onde o homem de 31 anos reafirma quem ele é

O álbum começa com “Movimentos” de maneira impactante, o rapper coloca a atriz Polly Mariano pra declamar versos fortes, há um em especial, nele eu senti a maneira como o álbum rolaria. Polly diz:

“Os que têm a sensibilidade e a frieza na hora de olhar o Mundo, serão os responsáveis pelos outros olhares”.

Bk se coloca nesse lugar de grandeza, parece que aqui, o rapper entendeu seu lugar na história. Potente, empoderado e atento ao que acontece mundo afora. Aliás, isso não quer dizer que ele não era grande antes, ele só não sabia e não agia conforme isso, o que não é ruim e muito menos negativo. Exemplos de rappers com trabalhos que consolidaram suas carreiras são extensos tanto aqui como na gringa. Mano Brown, Emicida e Kendrick Lamar são bons exemplos.

É impossível não olhar a evolução daquele menino boêmio, que canta “KGL”, uma odisséia aos bairros do Catete, Glória e Lapa, esse último lugar onde tudo pode acontecer aqui no Rio, passando por “Jovens”, música que escancara as relações desprotegidas dos jovens e finalmente chega em “Pessoas, onde o homem que tem consciência dos problemas sociais que acontecem nesse Brasil afora e exalta, principalmente, a família e amigos.

Tenho o melhor irmão do mundo
E temos a melhor mãe do mundo
E os melhores amigos do mundo
Diz pra mim que isso não é dominar o mundo

Aliás, há quem diga que os protestos depois da morte de George Floyd influenciaram diretamente na obra, mas, o álbum ficou pronto antes, ele era previsto para março, a pandemia adiou bastante o lançamento. Logo, nos resta observar que essa influência partiu daqui mesmo, Rio de Janeiro, onde pretos são 78% (1.423) dos mortos pela polícia do estado de maneira violenta em 2019. São três, quase quatro, “George Floyds” por dia.

Bk cita Marielle Franco, Malcolm X, Thomas Sankara, pilares negros na história do mundo, responsáveis por grandes revoluções. Thomas Sankara foi ex-presidente da Burkina Faso, um grande socialista que lutou bravamente contra o colonialismo no continente africano. Foi assassinado por opositores em um golpe. Marielle Franco foi uma ex vereadora do estado do Rio de Janeiro, negra e de favela. Ela era conhecida por denunciar a violência policial no município. Marielle foi morta a tiros. Malcolm X foi um revolucionário americano, principal nome na luta para equidade racial no mundo. Malcolm foi morto a tiros. Ainda em “Movimentos”, Bk diz:

“Malcolm X, eu não tô bem com isso
Mataram Marielle e ninguém sabe o motivo
Na real, todos sabemos o motivo
É o mesmo de nenhum dos meus heróis continuar vivo”

Com isso ele coloca o desejo de mudar o rumo em que as coisas acontecem, ele quer heróis negros vivos, fazendo a diferença ainda em vida. Bk quer ficar vivo, mudando o destino cruel do mundo, em que pessoas pretas crescem e são mortas. Em “O Lider em Movimento”, Bk se coloca ao lado dos grandes heróis negros da história e faz o mundo notar sua grandeza.

Quem ganha com essa clareza de grandeza somos nós, publico do rap. Nós ganhamos um artista que já era absurdo, mas agora atinge outro patamar na história. Obrigado por dividir sua grandeza, Abebe. Agora você é eterno e deixa seu legado por aqui.

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