Lembro até hoje de um amigo reclamar “P*rra, o Racionais lançou um disco duplo, agora f*deu, mais 10 anos pra lançar outro”. Para o desespero desse amigo e da maioria dos fãs, foi necessário mais que uma década para que o grupo formado por Brown, Blue, KL Jay e Edi Rock chegasse a nossos players com um disco.

Verdade que nesse hiato tivemos lançamentos esporádicos como “Mulher Elétrica” e “Mente do Vilão”, além do show de 25 anos do grupo, mas não é a mesma coisa. Como bem disse o MC carioca Aori, hoje o Brasil se dividiu entre aqueles que já ouviram “Cores e Valores” e aqueles que ainda não ouviram.

A mídia, da segmentada à de massa, estava frenética atrás do disco, mas a palavra de ordem era “segredo de Estado”, como bem cravou KL Jay em uma das tentativas do blog em ter acesso à informações do novo trabalho.

Prometido para 20 de dezembro, o disco foi lançado antes apenas para usuários do sistema android, no Google Play. Mas é claro que, logo em seguida, uma playlist com prévias das músicas foi lançada no perfil oficial dos Racionais MC’s e, num piscar de olhos, os links de download pipocaram sem controle.

Por volta das 10 da manhã, o link do youtube já circulava pelos perfis de redes sociais dos fãs do Racionais e, o que era fagulha, rapidamente virou incêndio de grande porte. As primeiras impressões saudavam os sons mais curtos com beats contemporâneos e letras densas, que inovam sem que o grupo perca sua característica principal: a narrativa envolvente.

Depois de um dia inteiro ouvindo o disco sem parar, conseguimos respirar fundo e organizar nossas primeiras impressões sobre Cores e Valores:

– Os beats, timbres modernos e, ao contrário da produção orgânica recente dos artistas de rap feito no Brasil, mantém a pegada mais rústica da produção de beats, tradicional do gênero, e garantem o ponto alto. As batidas ganham mais valor por terem sido produzidas por beatmakers ainda desconhecidos do grande público, como Blood e Gedson, talentosos e com futuro promissor.

Ice Blue, monstrão, vai além do papel ‘vozes dos personagens adicionais das rimas’, apontando uma evolução significativa no trabalho do MC. Edi Rock supera sua habilidade lírica e, Mano Brown, ganha destaques de sobra, entre eles o flow renovado e evolução nas dobras.

Os símbolos em sua rima ganham mais peso e riqueza, remetendo-se diretamente à poesia de Cruz e Souza, mais importante escritor do Simbolismo da língua portuguesa. Aos desavisados, Cruz e Souza era filho de escravos nascido liberto e, sua obra, traz ênfase à musicalidade do texto ao explorar a sonoridade das palavras.

– Apesar do possível estranhamento entre os fãs mais tradicionais, o esquema mixtape agradou; principalmente os cortes secos com pequenas introduções, efeitos e sobras de beats.

– Sentimos falta dos scratches, afinal o grupo tem o DJ mais cabuloso do Brasil entre eles, KL Jay.

– Uma das faixas que ‘salta aos ouvidos’ de cara é “A Praça”, que revive o polêmico incidente ocorrido em 2007, em que um show do Racionais MC’s na Virada Cultural que foi interrompido após confronto entre PMs e público.

Ainda não ouviu? Cores e Valores, o novo trabalho do Racionais MC’s, pode ser baixado no Google Play por R$ 9,99. Mais informações: http://smarturl.it/coresevalores

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One reply on “Cores e Valores, o novo disco dos Racionais MC’s, não sai do loop”

  • […] teve disco duplo do Racionais MC’s, com faixas extensas que chegam a durar mais de 8 minutos. Já teve disco de “apenas” meia hora de duração. Álbuns que apresentam músicas com e sem refrão. Temas dos mais variados e inúmeras tendências […]