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Depois da seção Por Onde Anda?, que chega com o propósito de mostrar o que seu MC, DJ ou produtor favorito anda fazendo naquele período de entressafra, agora é a vez de mais um lançamento: Pergunta que eu respondo! A ideia aqui é trocar ideia com quem tem o que dizer, seja sobre um lançamento de trabalho, sobre um tema específico ou, quem sabe, até sobre a vida. 

Na primeira edição, convidamos o DJ Caique, que recentemente lançou o volume 3 de Coligações Expressivas, celebrando os 10 anos do projeto. Caique ousou e quis lançar algo grandioso, o fruto disso foi um álbum duplo que reuniu mais de 50 MCs do Brasil e de Portugal, de A a Z, da velha e da nova escola. O trabalho não foi fácil, mas o resultado valeu a pena.

Per Raps: Há quanto tempo você já está envolvido com o rap?
DJ Caíque:
Eu escuto rap desde 94, mas comecei a me envolver mesmo entre 1999/2000 como DJ, e em 2003 como beatmaker.

Per Raps: Quem te incentivou a começar a produzir e, depois, a rimar como Dr. Caligari?
DJ Caíque:
O Hurakán, de Curitiba, me apresentou o Fruity Loops Studio no final de 2002, ai comecei a fazer as batidas. O Ogi foi um cara que incentivou muito na época, ele pegou um dos meus primeiros beats para o disco Missões e Planos, do ContraFluxo. Em 2005, eu comecei a fazer uns freestyles em cima dos meus beats com alguns amigos e na época resolvi escrever uma letra sobre o mensalão, foi ai que escrevi o som “É O Terror”.

Per Raps: Qual foi a viagem para assumir a alcunha de Dr. Caligari?
DJ Caíque:
Puts man (risos), eu estava começando a fazer as letras e sempre gostei de filmes de terror dos anos 70, 80 e suas trilhas sonoras, pianos e violinos sinistros. Sempre curti isso! Estava assistindo o primeiro filme de terror do expressionismo, “O Gabinete do Doutor Caligari”, de 1920, que contava a história de um diretor de um hospital psiquiátrico. Gostei do nome e resolvi usá-lo para diferenciar o DJ Caique produtor do DJ Caique MC.

Per Raps: E a produção de beats de rap,

como foi o início?
DJ Caíque:
Então, quando eu vi que o Racionais tinha usado como sample um som do Tim Maia para fazer a batida, eu achei incrível. Depois fui me interessando mais, baixei o Fruity Loops e comecei a pesquisar sons dos anos 60, 70 e 80 e fui descobrindo muita coisa boa entre funk-jazz, trilhas sonoras, progressivo, folk, hard rock entre outras, não queria mais parar de pesquisar e escutar musicas dessa época! O que eu mais gosto das músicas dessa época é a sonoridade, por isso trabalho mais com samples. Você pode até retocar o som antigo, mas não sai a mesma coisa, os timbres, o sentimento ali.

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“O Ogi foi um cara que incentivou muito na época, ele pegou um dos meus primeiros beats para o disco Missões e Planos, do ContraFluxo“

Per Raps: Ao longo da carreira você acumulou mais tretas ou mais trutas?
DJ Caíque: Mais trutas.

Per Raps: Encontramos fácil o seu trabalho em players de música como o Rdio ou o Google Play. Como você administra essa parte mais business da sua carreira, alguém faz isso por você ou é tudo no seu nome?
DJ Caíque:
Eu demorei pra entender disso (risos), mas fui atrás e faço por conta própria.

Per Raps: Como você começou a vender beats?
DJ Caíque:
Eu sou mó chato com meus beats (risos), tipo, pra mim é difícil colocar eles pra vender, pois nunca fiz um beat nessa intenção, eu faço beat pra eu escutar com as coisas que me agradam. Se alguém vai curtir é consequência e não faço beats por encomenda, saca? Alguém que já tem uma letra e quer um beat para a letra, eu não faço. De uns 2 anos pra cá tenho recebido bastante e-mail de pessoas querendo comprar, ai eu vou e escuto, se eu me identificar eu vendo sim.

Per Raps: Consegue viver só com o rap hoje ou às vezes precisa fazer outros corres?
DJ Caíque:
Hoje eu posso dizer que consigo sobreviver de rap, mas é treta! (risos)

Per Raps: Conta um pouco da sua rotina: que horas você acorda, o que faz, trabalha em alguma outra atividade diferente da produção para o rap, que horas trabalha nos beats, em que momento vai atrás de um sample etc.
DJ Caíque:
Então, eu nem vou atrás de samples, eu vou escutando um disco, outro disco, outro… Ai quando eu percebo algo que me chame atenção, eu paro tudo e vou fazer a batida, eu não sento na cadeira e falo “vou samplear”. Eu gosto de escutar o som.

Per Raps: O que você acha do uso do sample? Acredita que ele vai ser regularizado no Brasil como ocorre nos EUA algum dia?
DJ Caíque:
Espero que sim, eu trabalho mais com samples, a minha essência é essa, o resgate da música boa. Como falei ali antes, eu gosto da sonoridade de um piano antigo, alguns instrumentos que se retocados hoje não ficariam iguais o daquela época, saca?

Per Raps: Quais os seus beats favoritos que você produziu?
DJ Caíque:
Na real, eu curto todos, man! Se eu faço é porque eu curto, os que eu não curto eu nem finalizo (risos), mas vou citar uns mais recentes: do MV Bill, “Um Tiro”; do Rashid, “Marchem” e do PrimeiraMente, “Tá Moiado”.

Per Raps: E aqueles produzidos por outros beatmakers (gringos ou nacionais)?
DJ Caíque:
Gosto dos beats do Stoupe, do Jedi Mind Tricks, do C-Lance, do AL Tarba. Nacional eu gosto dos beats do Sem Grana, DJ Luciano SP e DJ Nato PK.

“Hoje eu posso dizer que consigo sobreviver de rap, mas é treta!”

Sobre o disco 

Coligações Expressivas – Vol. 3
Per Raps: De onde veio a ideia de fazer um disco com tantas faixas e tantos artistas?
DJ Caíque: A Coligações Expressivas sempre foi essa idéia de unir a velha escola com a nova escola, nesse volume 3 quis fazer um disco duplo em comemoração aos 10 anos do projeto. Queria fazer algo histórico. Consegui reunir quase 75 Mcs em um disco com junções inéditas ainda como MV Bill com Shaw e Valete, Sam The Kid e Mundo Segundo com Rashid e Lk do 3030, Sombra com 3030, Terceira Safra e Flow MC com Valete.

Per Raps: Tem música que escutamos e a sensação é a de que aquele beat foi feito exatamente para aquele grupo ou rapper. Como foi a escolha dos MCs e o beat para cada um deles?
DJ Caíque:
Como já disse, eu faço o beat sem pensar em quem vai rimar nele, mas sempre quando eu termino um beat ,eu penso “nossa esse beat tem a cara de fulano”. Ai eu mando o que eu acho e mais opções, ai eles (os MCS) escrevem a partir do beat.

Per Raps: Como se deu a sua aproximação dos rappers e produtores tugas?
DJ Caíque:
Eu já tinha trabalhado com o Mundo Segundo, do grupo Dealema, em 2008, ai no momento ele está trabalhando com o Sam The Kid, assim chamei eles para participar do disco. Assim como o Valete, eu já tinha contato com ele dessa época também, ai em 2014 ele veio para o Brasil e foi no meu home studio.

Per Raps: Você acha que a produção de lá é está no mesmo nível, abaixo ou melhor que a nossa?
DJ Caíque:
Eu acho que está no mesmo nível.

Per Raps: Como você decide para que grupo ou MC vai dar oportunidade, sendo que alguns deles nem disco lançaram?
DJ Caíque:
Se eu curtir e me identificar, eu aposto sim, como fiz com muitos.

Per Raps: O disco tem um quê político muito forte. Você escolheu essa pegada ou isso surgiu conforme o disco foi sendo criado?
DJ Caíque:
Estava falando isso com alguns amigos, eu já tenho meio que um rótulo de fazer “som pesado”, então as pessoas foram seguindo nessa linha mesmo, mas não foi algo premeditado não, foi natural, cada um falou sobre o que quis.

Per Raps: Finalizando, o que temos ou teremos de novidade do DJ Caique?
DJ Caique:
Então, acabou de sair o disco do MV Bill, Contemporâneo, que produzi 4 faixas e mixei e masterizei todas. Estou trabalhando com o Dexter no disco novo dele que vai sair em breve e no EP do Dr. Caligari

fotos por Biel Thadeo

Ouça Coligações Expressivas 3 (disco 1 e 2):

MAIS:
Projota, “Cada um com seus problemas” (prod. DJ Caique) 
Rodrigo Ogi, “Noite Fria” (prod. DJ Caique)

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