– por Guilherme Tintel (@guitintel)
Azealia Banks não levou mais do que cinco anos para ir da grande aposta do rap para um dos nomes mais controversos da internet atual. Na época em que surgiu, com o hit “212”, a rapper do Harlem era uma novidade para a cena, até então dominada apenas por Nicki Minaj entre os nomes femininos, e com isso atraiu muito peixe grande para a sua rede: do gênio Kanye West à também incompreendida M.I.A. Mas a boa fama não durou muito tempo.
De gênio forte, como muitos caras do meio, Banks nunca se limitou a falar apenas sobre sua música e, na medida em que conquistava o seu espaço, incomodava ao discutir sobre racismo, apropriação cultural, machismo e privilégio branco.
Para a mídia, historicamente cruel com mulheres e, principalmente, mulheres negras, isso foi o suficiente pra que cada uma de suas aspas fossem distorcidas e descontextualizadas, pintando o estereótipo da mina preta barraqueira e criando narrativas que acabavam no que você provavelmente conhece como algumas de suas desavenças, desta vez pra uma lista que vai da rapper australiana Iggy Azealia ao hitmaker Diplo – com quem chegou a trabalhar na faixa “Fuck Up The Fun”, que depois lhe rendeu uma dívida pelo uso não-autorizado de um sample do produtor.
Pela primeira vez desde a sua ascensão, a rapper parece finalmente estar colocando a sua carreira nos trilhos de novo. Desta vez, ao som de seu novo single: a dançante “Anna Wintour”, que não só entrega o seu trabalho sob mais camadas, dos versos cantados ao rap, como também volta a explorá-la como uma novidade em suas influências, aqui inspirada na house music e no som que embalou o “voguing”, característica coreografia que marcou os bailes negros LGBTQs de décadas passadas, posteriormente apropriada e amplificada por ninguém menos que Madonna.
Em seu clipe, sua inspiração vai ainda além: todo o visual é uma homenagem a “The Pleasure Principle” (assista no fim do post), da igualmente lendária e injustiçada Janet Jackson, e o resultado entregue é tão impecável, que se você não estiver ocupado demais aplaudindo, provavelmente estará se atentando aos detalhes para aprender alguns de seus passos.
Assista abaixo:
Diamantes e sonhos se tornam reais pra garotas como Azealia Banks.
Pra quem sempre esteve de olho na trajetória de mulheres negras na música, o que acontece hoje com Azealia Banks não é novidade. Grace Jones tem uma baita carreira subestimada, enquanto seguiu influenciando mil e um nomes brancos que alcançaram o mainstream; Nina Simone foi jogada pra escanteio quando usou sua voz em prol do movimento negro; Janet Jackson foi silenciada e engavetada pelo machismo e racismo dos que a condenaram pelo infame episódio com Timberlake no Super Bowl e por aí vai.
Na era da internet, Banks é silenciada por não se calar sobre as tantas injustiças que encontrou nesta escalada pela fama, dos produtores assediadores aos selos que lucram com a competição feminina aos que preferiam vê-la compondo para artistas brancas do que dando rosto – e voz – para as suas próprias músicas. Esta era, entretanto, também é a era da informação, de forma que aqui estamos nós, fazendo a nossa parte pra minimamente mudar alguma coisa.
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