Makalister Renton EP traz beats com sonoridade experimental e rimas que lembram um seriado de tv menos cômico e mais parecido com a vida real

Em um passado não tão distante, artistas se enfureciam com gravadoras, rádios e jornalistas que teimavam em colocar um rótulo em suas músicas. A atitude, que ajuda na hora das vendas prometendo facilitar a vida de quem compra música (para escolher o que lhe cai bem), na visão do artista, limita sua obra, restringe, rotula de uma forma que na maioria das vezes não condiz com sua arte. O tempo passou e a tal da classificação de gêneros musicais precisou evoluir e se agilizar, uma vez que as misturas de influências e estilos é cada dia mais comum.

A internet ajudou na mistura, democratizando o acesso à música, permitindo que uma criança com uma boa banda larga, seja em uma suíte em Abu Dhabi ou em uma quebrada no extremo sul de São Paulo, se emocionasse com as interpretações de Yo Yo Ma, os trocadilhos do MC Catra ou a mistura de tudo isso e mais um pouco nas produções de Madlib.

Corta a cena, o ano é 2014 e a cidade é Florianópolis, Santa Catarina, sul do Brasil. Andando de fusca 1985, o observador Makalister Renton, absorve influências trituradas e batidas no liquidificador com programas de tv, filmes, jingles, discos de amigos ou arquivos de mp3 e traduz isso tudo em rimas. Dá pra chamar de rap? Talvez, mas se achar seguro colocar esse rótulo, então aguarde um rap diferente do habitual, com marra, mas sem cara de mau, nervoso, mas que admite falhas – nas escolhas e, principalmente, em relacionamentos.

Conversamos com o artista que se juntou aos produtores Beli Remour e Gustavo Goss para lançar neste início de abril seu primeiro EP pelo Loopicotado Estúdio. Depois da conversa, aproveite para baixar e ouvir Makalister Renton EP.

Per Raps: Quem é o Makalister Renton?

Makalister Renton: Makalister, Renton é uma menção ao personagem de Ewan McGregor no filme Trainspotting. Não me acho parecido fisicamente, mas ele me ensinou algumas coisas que, no momento, eu prefiro levar no bolso ou no nome (risos). O Makalister Renton é o Makalister depois de Maka x Beli e Maka & Efiswami, que foram dois trabalhos meus antes do solo em que eu trabalhava/criava em dois, em conjunto. Lancei o clipe ¨99 Escalas De Um Voo Perdido¨ com o produtor Beli Remour e depois lancei cinco singles com o produtor Efiswami. Na metade de 2014, selecionei algumas canções que eu gostava muito, duas antes do Maka x Beli e duas de 2014 mesmo e comecei a produzir o EP solo pelo Loopicotado Estúdio. Aí eu fui morar com o Gustavo Goss que produziu três faixas do EP e me influenciou muito no processo desse trabalho.

Per Raps: E como foi a transição dos trabalhos, das duplas até chegar no EP de estreia? O que mudou do Maka para o Makalister Renton?

Makalister Renton: A transição de um trabalho pro outro é algo bem estranho, porém interessante. O lado interessante é que muda desde a timbragem que um produtor usa ou até mesmo a personalidade dele. O lado estranho é que são pedaços seus que vão caindo pelo caminho e pedaços novos que você vai juntando, a minha arte e a arte dos que estão em volta de mim mexem muito comigo, constante mudança, mutação.

Per Raps: O que você ouviu antes e durante a gravação do EP e o que está ouvindo hoje?

Makalister Renton: A primeira e a última faixa do EP são oriundas da época do Maka x Beli, nessa época eu passava 4, 5 dias internato no estúdio com ele e a gente ouvia muito Cazuza, muito mesmo, lembro que o Beli ouvia muito uma música da Tokimonsta que eu curtia muito também. Na época de gravação do EP eu morava com o Goss e lembro que a gente ouvia muito Flume e Childish Gambino. Não sei se influenciaram diretamente, mas me fazia muito bem e ouvia bastante. Trabalhei em um bar símbolo da boêmia de Florianópolis e lá eu passeava pelas veias do samba de raiz e pela pele dos anos 70 da música brasileira, que pra mim foi a década de ouro! Eu ando ouvindo muito as brasilidades dos anos 70 faz uns bons meses, Banda de Pau e Corda, Luiz Melodia, Gal, Egberto Gismonti e de rap eu ando escutando muito Madlib (me inspira muito) e o último álbum do Action Bronson que tem uns blues que me deixam de perna bamba.

“Dei uns bons rolês com o meu Fusca 1985 ouvindo esse disco da Gal”

Per Raps: Você ouviu e ainda ouve seu EP?

Makalister Renton: Curto muito ouvir esse EP por conta das instrumentais de Goss e Beli, eles são mágicos! E gosto de ouvir bastante Makalister porque eu faço beats também, ultimamente ando produzindo muito então escuto bastante o que faço.

Per Raps: Quem é a Maydana e por que só ela foi convidada para cantar no disco?

Makalister Renton: A Maydana eu conheci pela fotografa Carolina Maennchen, ela tinha apenas 16 anos quando gravou o refrão da ¨Ensaio Sobre o Sol¨. Sou fã da voz dela, me faz bem, tem uma textura gostosa de ouvir, uma tristeza bonita, ela também curte as coisas que escrevo e criamos um laço forte desde então. Beijo, May!

Per Raps: E a menina que a gente ouve nos intervalos, é um dialogo com as músicas? Como uma resposta sua em forma de música para o bate-papo?

Makalister Renton: Sim, um diálogo com as músicas, comunicação entre elas, como se fosse ¨observações¨, daquelas que ficam no rodapé da página de algum livro.

Fim de papo. Gostou do que leu? Agora baixe Makalister Renton EP.

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