– por Parteum

Para celebrar os 20 anos do álbum illmatic, do rapper Nas, convidamos o MC/produtor/videomaker Parteum para montar uma lista com 20 motivos para se ouvir esse disco fundamental para a história do rap.

Vai vendo:

1. É o trabalho que melhor define o rap da costa leste dos EUA no início dos anos 90. Quando o álbum saiu, parecido com o que aconteceu nos anos 2000, o foco estava em outro lugar, bem longe de Nova Iorque. Em ‘93, ‘94, todo mundo estava prestando atenção no movimento da Death Row via Dr. Dre e Snoop na costa oeste. Illmatic fez a indústria e os fãs de Hip Hop voltarem a olhar pra cidade onde tudo começou.

Curiosidade: Nas foi um dos primeiros artistas a ser sondado por Dr. Dre em 95 pra sair da Sony e entrar na Aftermath. Foi daí que a colaboração “Nas Is Coming”, de seu segundo álbum “It Was Written” surgiu.

2. Foi um dos primeiros álbuns de Rap a contar com um time de produtores tão significativo. A Sony usou essa idéia como dispositivo de Marketing desde que o álbum foi anunciado, antes mesmo do primeiro Single ser lançado. Gente como Premier e Q-Tip não costumava produzir fora de seus núcleos, Gangstarr e A Tribe Called Quest, respectivamente.

DJ Premier, Q-Tip, Nas & Large Professor no estúdio
DJ Premier, Q-Tip, Nas & Large Professor no estúdio

3. O álbum tem intro + nove faixas. O outro disco com número de faixas similar a causar tamanho frisson é “Thriller”, de Michael Jackson. O primeiro single de Illmatic contém um sample de “Human Nature”… Pense nisso. Além dessa ligação, ambos, MJ e Nas, eram artistas Sony, na época.

4. Nas levou adiante o trabalho começado por Rakim, se levarmos em consideração as métricas, os assuntos, o pano de fundo musical de cada canção, a origem dos dois (ambos tem músicos de Jazz na família). Incrivelmente, as primeiras gravações do Nas aconteceram no estúdio caseiro de Marley Marl, no Queens, sob tutela de Large Professor (Ex-Main Source), durante sessões de gravação de Rakim e Eric B. De tempos em tempos, Nas dá um jeito de citá-los em rima.

5. Illmatic é o relato de um rebelde educado, de um poeta dividido entre o que a rua oferece e o que o “jogo” do rap representa. A semelhança entre as ruas e os negócios norteiam a conversa que o MC apresenta no álbum. Citação: “De alguma forma essa parada de vender crack me faz lembrar do jogo do rap.” Isso qualquer outro MC poderia ter dito, já que a semelhança ainda hoje existe, mas só Nas deu um jeito de enfiar Leviathan, Nikes ACG, botas da Timberland, armas escondidas em jaquetas, além de citações da Bíblia e do Alcorão na mesma obra.

6. “NY State of Mind” é a melhor aula de MCEEING e STORYTELLING, desde os primeiros discos de Slick Rick, Big Daddy Kane, KRS-ONE, Rakim e Kool G Rap. Digo isso pra dizer que um dos motivos pra ouvir Illmatic é, sem dúvida, o poder de síntese do MC.

7. Ao ser lançado, não foi um disco popular, mas serviu/serve de molde pra todos os discos de artistas-solo de rap desde seu lançamento.

8. Foi, na época, o álbum mais pirateado de um rapper de NY. Nas, depois de assinar com a Columbia/Sony, se afastou um pouco do circuito de Mixtapes e sessões de freestyle em programas de rádio… Conclusão: quando o álbum ficou pronto, a sede era grande. Vazou e ganhou as ruas antes mesmo da Sony lançá-lo. Lembre-se, o disco é de 1994. Piratear discos era negócio um tanto quanto mais arriscado e difícil do que hoje em dia.

9. O terceiro verso de “Represent” conta a história do rap (e) de Nova Iorque (anos 80 e 90) em poucas linhas »» “Antes do conflito da Boogie Down Productions com o MC Shan…”, “Se eu chegar no fundo do poço, viro o Filho de Sam”… E por aí vai.

10. O primeiro verso de “It Ain’t Hard To Tell”.

11. O número reduzido de participações no disco faz o ouvinte prestar atenção no artista principal.

12. O verso de AZ em “Life’s A B*tch”.

13. O solo de Olu Dara, pai do Nas, em “Life’s A B*tch”.

14. A introdução do álbum, Genesis, se apoia num diálogo de Wild Style… Quer dizer, o álbum já começa dizendo: Esse não é um disco comum de rap, é um álbum Hip Hop. É rua, mas tem disciplina.

15. Os instrumentais ainda são a melhor referência de boom bap de toda a história gravada do rap. Tem loop de bateria, tem recorte de sample e batida, tem sample retocado, tem batida em 12 bits, filtrada em SP1200… Tem empilhamento de sample forçado a tocar no mesmo tom… Só “It Ain’t Hard To Tell” tem três samples rodando o tempo inteiro, fora colagens.

16. É álbum de rap com Scratches!

17. É uma das pinturas mais bonitas que eu já ouvi.

18. É tão melhor do que o rap de hoje em dia.

19. É uma espécie de Bitches Brew (Miles Davis) do rap, pra mim.

20. Foi o centésimo CD da minha coleção. Comprei na extinta loja do Farinha, na 24 de Maio. Os singles, um a um, comprei em fitas cassete em 1995.

Agora para tudo que está fazendo e ouça illmatic: (Nota: O disco abaixo é o illmatic XX, uma versão especial celebrando os 20 anos da obra, que traz remixes e versões remasterizadas, além de um freestyle inédito de Nas. A versão abaixo não é a versão completa.)

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