Quem dá play no trabalho mais recente do rapper Febem se depara com a introdução batizada “Running”, com a participação de Ashira.

Tem quem corre por lazer,
Tem quem corre pra viver,
Tem quem corre perigo.

Trecho da track “Running”

Essas são as primeiras frases ditas pela artista que faz participação na intro do álbum sucessor do EP “Prata” (2017). A frase é impactante, é massiva, mas é suavizada pela voz calma e melódica de Ashira. Mas lógico, Febem como de costume consegue trazer à tona um cenário musical que remete ao ouvinte a saudosa época “golden era”, com rimas muito ácidas e um gingado paulista de rua, muito original, visto que o rapper vem da zona norte de SP.

Capa do álbum "Running", do Febem lançado em 2019
Capa do disco Running

Na minha interpretação, os outros dois projetos anteriores, “Elevador” e “Prata”, remetem à perspectivas de diferentes estágios da vida. Se por um lado, em “Elevador” (2016), tínhamos um Febem mais “solto na pista”, com músicas voltadas para o gênero grime, em “Prata” temos um teor mais “sonhador”, aonde o MC mira alto, buscando realizar sonhos mesmo que de forma brusca, almejando à todo custo o seu próprio bem-estar, assim como o da família e amigos.

Com rimas cortantes e diretas no boom bap (track “R. U. A”), funk com a melodia do beat inspirada em “Just A Lil Bit”, do 50 Cent (track “Tudo ou Nada”), e até usando Auto-Tune, o recém-lançado “Running” é literalmente a ‘correria’ do dia-a-dia: se esquivando de falsos, buscando o progresso, resolvendo dilemas de relacionamento, celebração, auto-estima, etc.

Como já dito acima, Febem consegue ser muito prático e preciso quando o assunto é trazer a era noventista do Rap nos dias de hoje. Relatando cruamente a vivência das ruas além da música no clipe de “Bolt”, que foi escolhido para single antes do lançamento do álbum, o projeto captou atenção dos ouvintes e a espera não foi em vão.

Em resumo, “Bolt” junta todas as estéticas do álbum, pois vemos o rapper em total versatilidade; rimando sobre a rotina exaustiva de quem acorda cedo para conquistar o ganha-pão, acentuando a discriminação pelas ruas, a falta de “esperteza” de pessoas de fora que vem para o Brasil (mais precisamente para São Paulo) e que agem na ingenuidade, duras críticas à MC’s que vivem um “lifestyle” que não possuem e que conseguem ingressar no mainstream com mais facilidade por estética e condição financeira, e ainda assim com a capacidade metafórica de usar toda essa “correria” do dia-a-dia de todos os assuntos citados acima com o nome de um dos maiores velocistas que já tivemos; o jamaicano Usain Bolt.

As participações de “Running” foram meticulosamente escolhidas; Nill para a track mais “leve”, BK’ e Akira Presidente juntos para uma track onde o conceito é literalmente “meter o foda-se” junto com os amigos/família, e a leve camada de suavidade de Ashira para a introdução, fazendo o ouvinte se acomodar e pensar “ok, posso me preparar porque depois da intro o bicho vai pegar”.

“Running” é o fechamento de uma trilogia de vivências do rapper paulista, contendo glórias, ambições e dificuldades, o álbum é um dos lançamentos mais concretos e com alto teor de realidade em 2019.

Ouça Running, do Febem no…

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