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“Eu vi deus e era uma mulher preta”
– por Carol Patrocinio e Eduardo Ribas

Dona Jacira é uma das estrelas da carreira, e da vida, de Emicida. O clipe “Mãe” não podia ter outra estrela. A mistura entre poesia e dor, opressão e vitória, transformam o clipe em uma viagem cheia de memórias compartilhadas por todos aqueles que são negros e pobres. Cenas delicadas, momentos ultrasensíveis e a poesia presente em todos eles percorrem a trajetória de sua mãe – cheia de obstáculos e lutas diárias, uma realidade comum à inúmeras mulheres brasileiras.

Assim como fez em “Boa Esperança”, o clipe de “Mãe” apresenta a vida da mulher preta e pobre ao grande público, uma realidade pouco mostrada de forma séria e não caricata como nas novelas. Cuidar sozinha dos filhos, garantir educação e amor enquanto enfrenta dificuldade de conseguir emprego, de ter um salário minimamente digno e carregar o peso do mundo nas costas sem deixar transparecer – porque o mundo gosta de mulher negra guerreira. Isso sem deixar transbordar todos os traumas que carrega da infância, entre maus tratos e falta de afeto que o mundo insiste em propor.

A história é triste, mas verdadeira. É uma homenagem à todas as mulheres que nunca tiveram sua batalha do dia a dia valorizada. É lembrar que essas mães, as que trabalham vestidas de branco em dias especiais, as que carregam o filho sob o olhar cheio de ódio do patrão, que elas não são invisíveis. O clipe nos lembra que todos aqueles momentos e lutas sem mérito nem mesmo em sua própria casa estão sendo vistos. Sim, deus era uma mulher preta e ela nos ensinou a não esmorecer.

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