Depois de um hiato de nove anos, o rapper paulistano DonCesão lançou, na última segunda-feira (10), seu novo trabalho EGO. Em dez faixas, o artista apresenta seu lado mais introspectivo, porém menos individualista, e mostra uma desconstrução pessoal após a paternidade.

A palavra “Ego” vem do latim e é significa “eu”, ou seja, a primeira pessoa do singular. Para a psicanálise, o ego é a imagem que uma pessoa tem de si mesma, que reflete em todas suas ações ao mundo exterior, desde a vaidade até um mecanismo de defesa da personalidade.

O terceiro trabalho de Don é uma maneira de desconstruir aquele rapper responsável pela frase “Sou DonCesão, mas você não”, no TheCypherDeffect, lançado em 2014. Antes famosos pelos versos de braggadocio, ele traz uma versão mais frágil de si mesmo nesse disco.

A construção da narrativa de EGO sintetiza essa transformação. Logo no início, na faixa Cesar, o rapper apresenta suas rimas mais “sujas”, voltadas às imagens que remetiam nos últimos anos. O áudio verdadeiro, no fim da música, também simboliza essa personalidade mais temperamental.

O disco nasce em suas sessões de terapia. Em “Transtorno de Estresse Pós-Traumático” é onde Don começa a se abrir, apresenta seus medos e traumas criados na juventude, com paternidade de seu próprio pai. Portanto, nesses as cinco primeiras faixas, incluindo a interlúdio, mostram como as feridas do rapper contribuíram para a construção desse Ego.

A personalidade mais durona do MC e suas inseguranças camufladas sobre os bem materiais são desconstruídas ao longo dessa narrativa. Pessoalmente e profissionalmente, DonCesão teve que abandonar sua figura singular e abrir os braços para outras pessoas. Essa conscientização inicia com a criação do selo Ceia Ent, pois, no papel de empresário, se responsável pela carreira de vários artistas.

Porém, o desabrochar desse senso mais coletivo vem da paternidade. Diversos artistas relatam as mudanças que a experiência de ser pai reflete na arte. O coração durão, amolece. Seu lado mais individualista não pode mais existir. A ostentação não é mais a corrente, é a geladeira cheia – nas palavras do próprio Cesar. Seu mundo, agora, gira em torno de outro ser.

Apesar de EGO carregar uma estética moderna, com melodias para cima em diversas faixas, é introspectiva. É uma briga com seus demônios, desde a criação até o consumo compulsivo da maconha, capaz de tirar pesos dos próprios ombros. DonCesão apresenta uma obra sincera, entendendo-se como ser humano, e mostra sua nova forma de relacionar-se com o outro.

Ouça a conversa dele, com o RAP TV, sobre a construção do disco:

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