O último dia 17 de julho datou o décimo aniversário do Below The Heavens, icônico álbum lançado pela parceria do rapper Blu e do produtor Exile. Lembro muito bem do dia que foi lançado e da primeira vez que o ouvi. Na época eu consultava e recebia a newsletter de um site/catálogo/webstore chamado undergroundhiphop.com e todo lançamento de musicas e discos cabeçudos me informava através dele. 

Já estava usando internet em 2007, o Programa Freestyle já estava rolando, mas só conseguia êxito nas minhas pesquisas e downloads nos praticamente finados Soulseek e Emule quando estava no trampo, pois a internet banda larga em casa tinha chegado exatamente naquele ano e era dividida entre minha casa e a de mais 4 vizinhos que no fim do mês dividiam a conta, dava uns 15 conto pra cada e de Speedy mesmo era só o boleto que chegava com precisão na caixa de cartas todo dia 25. 

Conhecia alguns trampos do Exile e ouvido uma coisa ou outra do Blu, mas cada um na sua, e quando foi laçado esse disco em parceria entre eles lembro que houve um certo destaque por parte de sites e blogs gringos que acompanhava, como OK Player e Kevin Nottingham (que não há atualizações desde setembro de 2016), mas só acompanhava mesmo, pois meu inglês era o da escola — alô, alô, Educandário Dom Duarte e EE Fernão Dias Paes — e de tentativas de traduzir letras na raça. 

Já tinha me convencido que era um ótimo álbum e procurei o meio mais tradicional na época para se descolar um disco gringo: aquela pesquisa inteligente no famigerado site da mulinha! Pronto, era só aguardar. O arquivo caiu, uma alma caridosa ripou em 320kbps (tenho essa pasta até hoje) e lá já estava nas caixas rolando. 

Quem lembrou muito bem dessa época e contou como ouviu pela primeira vez esse disco foi o Kamau: “Ouvi na época que saiu, se não me engano. Eu estava fazendo o Non Ducor Duco na época já. A lembrança era do meu corre pra fazer o álbum, juntando grana de onde vinha já que não haviam muitos shows pra mim até então”. O produtor, beatmaker e DJ Skeeter também recorda do momento: “Não tenho certeza, mas acho que a primeira vez que ouvi foi no ensaio do extinto grupo do qual eu fazia parte, a gente tinha esse ritual de se juntar pra ouvir os lançamentos juntos.”

O álbum chamou atenção de cara e assim já foi classificado por muitos como diferenciado, DJ Soares coloca sua ideia sobre: “É uma parceria entre produtor e MC. Eu gosto muito dessa formula. Cria uma unidade, uma solidez. Como se trata de um disco que ambos possuem estilos muito peculiares, o disco fatalmente iria soar diferente de tudo que tava rolando na época. Toda parceria tem o seu som. Eric B & Rakim, KRS One & Scott La Rock, Guru & DJ Premier, Talib Kweli & Hi-Tek, Pete Rock & CL Smoothe Blu & Exile sem dúvida estão nessa lista também”. Kamau completa: “Esse álbum tem tudo que os bons álbuns de rap que eu gosto tem. E tem o Blu em sua melhor fase.”

O disco não só caiu no gosto como também influenciou bastante as pessoas que acompanhavam aquele momento da cena, e que continuou sendo inspiração: “O álbum influencia até hoje, de tempos em tempos tenho que colocar ele na playlist do celular ou do carro pra ouvir de ponta a ponta, e o Exile é influência direta nas minhas produções”, afirma Skeeter

DJ Soares também demonstra a importância do álbum: “Sem dúvida me influenciou muito. Principalmente os beats do Exile. Ele tem um estilo que, apesar de ser próprio, você consegue enxergar as suas influências. Ele é um cara que tem assinatura própria. Quando você escuta um beat, você sabe que é dele. Os cortes de samples, os grooves de bateria, os timbres, a textura do som, o cara é um verdadeiro cientista da MPC. Isso me encorajou a fuçar mais, experimentar mais nas minhas produções”. 

E o Below The Heavens não só influenciou musicalmente como também marcou momentos com pessoas especiais: “Com certeza influenciou e virou referência pro álbum nas minhas conversas com DJ PR!MO e os produtores que eu procurava”, lembra Kamau

Diante de toda forma que a música circula e é distribuída hoje, com a velocidade e acesso das informações que chegam e o volume de trabalhos lançados diariamente, será que um disco como o Below The Heavens fosse lançado hoje, chamaria atenção ou passaria batido? “É lógico que pra quem viveu essa época sempre vai existir esse romantismo e isso é saudável, mas hoje em dia o mercado musical está muito mais dinâmico do que naquela época. 

Em 2007, o lançamento de um disco era um acontecimento, hoje em dia está se tornando uma mera formalidade. Quantos discos incríveis saíram nesses últimos 6 meses e você não vê mais ninguém falando deles? Entende? Para mim, esse disco sempre vai ser especial, mas é especial porque eu estava lá quando saiu, é outro sentimento”, argumenta DJ Soares. Skeeter finaliza: “Não passaria batido, mas acho que não chamaria atenção, a rapaziada tem voltado os ouvidos mais pra outras sonoridades atualmente, ainda bem que ele saiu na época certa.”

A gente tem o costume de classificar coisas que na nossa concepção são acima da média como “à frente do tempo”, e realmente, na concepção de muitos, o Below The Heavens estava à frente de seu tempo. Hoje ele tem 10 anos e ainda é muito bem lembrado, o que definitivamente acontecerá quando completar seus 20, 30 anos e assim que ser ouvido transmitirá as mesmas e boas sensações do ano de 2007.

Clique aqui ou dê o play abaixo para ouvir Below The Heavens.

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