O show nunca acaba” … Realmente. Para BK’, todo lançamento é uma nova chama que acende a paixão de cada fã de todo o país. O segredo? Talvez nunca saberemos, mas podemos parar para ver que o hip-hop na maioria das vezes politizado com um toque vivencial e de proximidade com os ouvintes não é fácil de se fazer, muito menos de se vender (pelo menos não recentemente).

BK’ é um dos maiores nomes do rap nacional da atualidade, e possui todo o mérito por isso. Assim como Kendrick Lamar, BK’ sabe como festejar em suas letras, sabe como provocar, sabe como usar metáforas e rimas absurdamente inimagináveis, tem ideias geniais sobre como mesclar elementos e gêneros de fora do hip-hop e trazer para o rap com uma naturalidade avassaladora. Nesse artigo, o foco é comparar a semelhança técnica da temática usada na escrita das tracks dos dois álbuns de BK’ (Gigantes e Castelos & Ruínas) e de dois álbuns de estúdio que Kendrick Lamar lançou (Section.80 e To Pimp A Butterfly).

Castelos & Ruínas e Section.80

Castelos e Ruínas
Capa do álbum “Castelos & Ruínas”, de Bk’

Castelos & Ruínas é o álbum solo de estreia de BK’, lançado em 21 de março de 2016. Contendo um teor de “altos e baixos”, autoexplicativo pelo título do projeto, que deu grande impulsão para BK’ ser reconhecido em todos os lugares do Brasil não só como integrante do grupo Néctar Gang, mas como rapper solo. Já, Section.80 também é o álbum de estreia de Kendrick, que foi lançado em 2 de julho de 2011, assim iniciando o reconhecimento de K-Dot para níveis internacionais, preparando o terreno para o grandioso “TPAB” [To Pimp A Butterfly].

Ambos os projetos são mais “crus”, tendo rimas mais diretas e beats bem mais rudes e rimas que soam como navalhas muito afiadas, dualidades nas linhas, analogias inteligentes e referências:

Section.80
Capa do álbum “Section.80”, de Kendrick Lamar

“Atropele-o e então atire nele, eu espero que você seja rápido o suficiente,
Até as pernas de Michael Johnson não significam nada, porque…”

Kendrick Lamar em “Ronald Reagan Era” (de “Section .80”).

Obs: Michael Johnson é um ex-atleta americano, detentor do recorde mundial dos 200 metros rasos entre os anos de 1996 e 2008.


“Viver de aparência, não ser nada do que mostra,
É tipo ter os dente de ouro e da sua boca só sair bosta.”

BK em “O Próximo Nascer do Sol” (de “Castelos & Ruínas”).

Gigantes e To Pimp a Butterfly

gigantes-bk
Capa do álbum “Gigantes”,do Bk.

Após grande expectativa por parte dos fãs, o segundo álbum solo de BK’, Gigantes, chegou às ruas após dois projetos batizados de Antes dos Gigantes Chegarem, Vols. 1 & 2. Contando com participações especiais de Luccas Carlos, Juyè, DJ KL Jay, Drik Barbosa, Marcelo D2, Akira Presidente e Baco Exu do Blues e com produções de NAVE Beatz, Papatinho, El Lif, JXNV$ e Arit.

Contendo um ar muito politizado, o segundo álbum de BK’ nos trouxe músicas como “Novo Poder”, “Gigantes” (com Juyè), “Julius”, “Abebe Bikila” (com KL Jay), etc. A semelhança de “Gigantes” com “To Pimp A Butterfly”, o terceiro álbum de Kendrick Lamar, que lhe rendeu além muitos elogios e fãs ao redor do mundo, uma indicação ao Grammy Award. Com um toque muito mais “jazz”, mais “leve” na maioria dos instrumentais, mas com um teor de críticas políticas muito fortes abordando racismo, cotidiano difícil, abusos de autoridades, mas sem deixar de lado os momentos de lazer e de autoafirmação, “Gigantes” e “To Pimp A Butterfly” possuem grandes semelhanças conceituais e sonoras. Observem uma semelhança TEMÁTICA em músicas dos dois álbuns para melhor entendermos a proximidade conceitual:

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Capa do álbum “To Pimp a Butterfly”, de Kendrick Lamar

“Se suas paredes pudessem falar, eles diriam que é tarde demais
Seu destino, aceite, seu destino…”

– Kendrick Lamar em “These Walls” (To Pimp A Butterfly)

“Vai ficar tudo bem quando eu te reencontrar, eu te juro
Eu quero ser maior que essas muralhas que eles construíram ao meu redor…”

– BK’ em “Titãs” (Gigantes)


Após ouvir os quatro projetos, é possível perceber a semelhança da escrita direta, porém poética de Kendrick e BK’, o que sugere que uma das coisas que fazem os dois artistas possuírem grande reconhecimento na música, é juntamente a fusão de essência “bruta” do hip-hop e a delicadeza da música em outros gêneros como o blues, o jazz, e até música clássica.

Sendo exímios artistas, os dois rappers sabem muito bem difundir o marketing em suas músicas sem deixarem suas características de compositores que carregam desde o início de suas carreiras no famigerado “underground” de lado. Mantendo os pés no chão e ao mesmo tempo voando alto em carreira artística, a música dos dois ainda tem muito solo para surpreender nós, ouvintes, e para gerar novos fãs e trabalhos exuberantes.

Ouça abaixo a playlist com os quatro álbuns citados no artigo

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