Não me sentia emocionado com um videoclipe de rap há tempos, até que assisti “Norte Nordeste me veste”, de Rapadura. Não culpo os outros clipes, mas tiro o chapéu com gosto para o Xique-Chico e o diretor Vrass 77.
A fotografia impecável, de beleza invejável, fez Rapadura parecer o cangaceiro, herói cabra da peste, mas lembrou também outros bravos, como um samurai em sua jornada lá pelo oriente.
O vídeo trouxe também nostalgia, lembrei-me do dia que Kamau me entregou a mixtape Fita Embolada de Engenho nas mãos e, desde que a ouvi, tive certeza que o talento de Rapadura não tinha fronteiras. Suas idas e vindas na linha tênue do rap e repente, sua preocupação em passar a cultura nordestina em rima e mostrar seu valor frente ao fechado, e muitas vezes metido, eixo Sul-Sudeste. Pode comemorar Rapadura, tá dando certo!
Voltando ao clipe, não tem muito mais o que dizer do que :“ô coisa linda!”. Mostra o cangaço, mostra a Bahia – fácil de reconhecer. E tem gente que já ouviu sobre lampião, mas nunca viu o sertão, que é seco, sofrido, mas também é lindo, e muito mais brasileiro que a selva de pedras.
Importante ressaltar a escolha da música, que casou perfeitamente com o videoclipe, além de ser um belo cartão de visitas ao trabalho do Xique-Chico. É furiosa, exige atenção, respeito. É frenética, pois o flow é impressionante, digno de poucos, já que me veio de bate-pronto à mente apenas Busta Rhymes.
Em relação ao vídeo em si, todos os elementos agradam: a grua, os closes, a movimentação da câmera, os cortes na edição. Destacando três momentos marcantes, eis que, no início, Rapadura surge em meio a poeira do sertão, ali pelo meio, a dança do MC durante a embolada e, o final, em que o guerreiro busca água num riacho após encarar a batalha de levar o rap nortista para o Brasil, e quissá, ao mundo.