“Sobre o alívio?
Se o alívio for um deus da mesma qualidade do tempo
E eu puder ser seu guardião, ser sua sentinela, eu quero
Só pra saber onde me encontrar no melhor momento
Não falaria de alívio se não tivesse doído tanto”
É assim que Rico Dalasam inicia seu último álbum, “Dolores Dala Guardião do Alívio”. Potente, mas delicado, duro, mas necessário e, como o nome do rapper, rico de diversos sentimentos, sejam eles bons ou ruins. Depois de um tempo sem lançar uma obra solo, Rico simplesmente retorna abalando as estruturas com um álbum único, concorrente forte ao álbum do ano, e em diversos estilos musicais diferentes. Para começar, queria deixar claro que isso aqui não é bem uma análise, uma resenha sobre o disco, isso é o que eu, Vinícius Agrícola, senti ouvindo o álbum. Vamos lá.
Rico começa com “DDGA”, basicamente a sigla do álbum, com uma poesia potentíssima sobre alívio, sobre união, sobre amor. Esse trechinho que coloquei no começo faz parte desse som. É muito importante às visões que o cantor traz, já que como homem negro e gay, Rico tem na sua vivência a resistência, mas não é só disso que se resume seu álbum, há muitos momentos alegres e importantes. Mas no fim é tudo sobre amor.
Agora, vou focar em outro aspecto do álbum, na verdade uma visão mais subjetiva da obra e do autor. E uma visão sobre mim também. Rico ficou fora de cena por um motivo que todo o mundo sabe: O rolê com a Pabllo sobre os direitos da música “Todo Dia”. Acontece que esse imbróglio gerou diversos problemas a Rico, boicote é um deles. Falando de mim, aos 11 anos tive uma doença na coluna quase fatal, tuberculose óssea, e ao contrário do comum, que é se alojar no pulmão, a minha se alojou na coluna cervical e esse foi o começo dos meus problemas.
Durante um período de 3 meses eu perdi todo o movimento do pescoço pra baixo, tetraplegia mesmo. Foram dores, suposições, diagnósticos errados até eu descobrir a verdadeira causa do problema. Rico passou por injustiças, teve sua credibilidade como cantor abalada, sua carreira foi quase encerrada precocemente por conta do boicote que sofreu da indústria fonográfica. Mas, no fim, a vida sempre vence. Eu me recuperei, depois de 11 horas de cirurgia e 2 anos de sessões de fisioterapia, eu voltei e consegui seguir a vida, estudando, saindo, sendo feliz. Rico, depois de um tempo sem aparecer, lança um álbum incrível, cheio de vida e que merece o seu devido destaque. No começo do álbum ele disse: “Não falaria de alívio se não tivesse doído tanto”. Doeu. Muito. Mas no fim, essa obra trata sobre retorno, do Rico, mas o meu também, porque a melhor versão de nós nunca foi na agonia.