Dia 6 de março, a cantora e MC lançou ao mundo seu primeiro álbum. E foi um afago na alma de cada mulher correria. 

Valeu a pena ter esperado tanto pelo trampo de Bivolt. Isso é posto da forma mais genuína possível, exalando quem ela sempre foi. O que recebemos foi um fruto de uma longa trajetória, já com maturidade e a conquista de uma estrutura foda para a produção do disco pela Som Livre. Desde o Boqueirão até Cingapura e Nova York, no final do dia, Bivolt vai ser sempre ela mesma. 

O brilho e o corre, o R&B/Soul e o Hip-Hop, são facetas, mas não são caixinhas. É impressionante como Bivolt consegue transitar em uma escala de cinza de uma forma complexa e não só no preto e branco. O álbum é como um prisma onde cada face se complementa de maneira muito harmonizada. 

A voltagem que me pega de jeito desde a primeira orelhada é a “220V”, não tem jeito, mas tracks como “Murda Murda”, “Cubana” e “Freestyle” são, pra mim, amor à primeira vista – depois quero falar melhor de cada uma delas. Mas “Tipo Giroflex” e “Mary End”, que compõem a faceta mais melódica da artista, mostram que o talento não depende de mood

Apesar de possuir qualidade para isso, o trampo busca quebrar este paradigma de top 10, ou melhor do ano, e isso fica claro não só na frase da Tasha “eu sempre tô ganhando porque eu não compito em nada”, mas no fato do álbum todo ser auto-reflexivo, voltado para um lado interno e que parece ter outras ambições e até mesmo projeção internacional, e não competição. Coloco alguns dos motivos pelos quais vale a pena a audição do trampo. 

1) As participações, tanto na voz quanto na base, são TUDOH, e eu posso provar!

A faixa “Tipo Giroflex”, o R&B revelação do álbum, foi produzida por ninguém menos que o especialista nisso, Filiph Neo (que produziu, inclusive, o Boogie Naipe do Brown), fora que Jé Santiago, desde o primeiro ad lib, já constrói a atmosfera perfeita pra isso. “Murda Murda” não tinha como ser com outras pessoas se não Tasha e Tracie. Talvez Jamés Ventura, por exemplo, manteria o ganguismo vivo, mas não representaria tão bem a mulher correria como as gêmeas – de longe, minha faixa favorita. 

Tropkillaz e Dada Yute mostram em “Freestyle” o que eles sabem fazer de melhor: botar fogo na pista com uma ragga de BPM lá em cima. “Nome e Sobrenome” imploraram pela musicalidade da Xênia França enquanto “Hipnose”, bem… Lucas Boombeat é a personificação de habilidade na rima, conteúdo foda e gastação, deixou um gostinho pro disco solo que vem dia 20/3. Por fim e não menos importante, Vibox em “Você Já Sabe”, boombap de responsa com direito a scratches e samples de RZO e RPW: Hip-Hop até umas hora, daqueles que dá gosto de ouvir. 

2) Os clipes “110v/220v” vão te mostrar um detalhe a cada flagra

Dia 6 de março, a cantora e MC Bivolt lançou ao mundo seu primeiro álbum. E foi um afago na alma de cada mulher correria. Leia a resenha!

Agora vou transcrever de forma sincera alguns dos pensamentos e reações da experiência do clipe interativo:

  1. Calma, acho que não sincronizei direito, o primeiro vídeo está mais adiantado… Vish, agora o segundo.
  2. O que que ela está escrevendo neste bloco? Tem mensagem subliminar aí…
  3. *Cena do brinco* estou IMPACTADA, olha as gêmeas somando, que lindo. 
  4. *Cena do elevador e todo decorrer dos dois clipes* Gata demais, R7, não é brincadeira. 
  5. Vou ter que assistir um de cada vez e depois tudo de novo (pensamento em looping).

Além de explorar novos nichos, a profissionalização da artista mostra que seu talento não vai ser desperdiçado, tanto em produção audiovisual e musical, quanto em assessoria. Seu clipe teve repercussão internacional – saindo no Campaign Live, e a expectativa é de continuidade e expansão da carreira. Este trampo botou, mais do que nunca, Bivolt no mapa. 

Dia 6 de março, a cantora e MC Bivolt lançou ao mundo seu primeiro álbum. E foi um afago na alma de cada mulher correria. Leia a resenha!

3) Sobre o afago na alma da mulher correria

Bivolt exala independência, seja isso parte de sua essência ou fruto de sua condição no mundo. Possui um amor próprio admirável, que muitas vezes, para olhos mal treinados, pode soar como egoísmo. Essas características se manifestam de uma forma muito natural e definem todo o caminho percorrido nas letras do álbum. Em “Me Salva” ela mostra que quem pode salvá-la, além dela mesma, nem mora neste planeta. 

Focar no próprio corre acima todo e qualquer relacionamento, sem perder o senso de coletividade e carisma não é uma tarefa fácil, mas pra Bivolt isso não parece difícil. 

Já falei que a pegada é outra / Sem deixar pegada para ser se seguida
Pois chamam de louca a postura de quem / Escolheu pintar a própria cena na porra da vida / Honrar meu futuro, mano, e lembrar de onde eu venho (…)
Minha luz é como sol que brilha / Energia forte sem pilha
Do além busco forças sou filha / Do que alguns dizem irreal
História é pra pescar peixinhos / E meus peixes tão no real

Trecho de “Peixinhos”

Talvez seja cedo para falar, mas daqui uns anos quero voltar para falar do quanto “Mary End” ou “Peixinhos” vai inspirar e influenciar meninas e mulheres a correrem atrás dos próprios sonhos. Pra quem já corre, é como um suspiro, um “respira que vai dar tudo certo, desiste não e não para por ninguém”. Eu nem sabia que precisava tanto ouvir isso. Só agradece, Bivolt.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

um × 5 =

One reply on “Os dois lados da mesma Bivolt: uma review sobre seu álbum”