Conversei com o Load para falar sobre sua mais nova iniciativa, o podcast “Loadeando”, que mescla Hip-Hop e Cultura Pop
Eu comecei a produzir conteúdos ligados à Rap em meados de 2017, inicialmente para a comunidade brasileira do site “Genius”. Como moro em São Paulo, tive a oportunidade de fazer algumas coberturas de eventos excelentes que começaram a surgir a partir desse movimento que surgiu após Sulicídio e a era das Cyphers.
O segundo evento que cobri foi a primeira edição do “Rap Clandestino”, evento organizado pela Cérebro Surdo, que teve niLL como atração principal. Esse era o primeiro show dele na capital, fora que ainda ainda era o lançamento oficial do álbum “Regina”, que já estava conquistando a atenção e os ouvidos atentos da galera que queria ouvir um som novo.
Nesse evento, tive a oportunidade de conhecer várias das pessoas que fomentam o Rap no “backstage”, fazendo matérias, promovendo discussões, analisando álbuns. Posso citar alguns que lá estavam: Ronald Rios; o onipresente Boqa Santana; Digão, do Lado do Negro da Força; Vitão e Carlos, da Black Pipe Entretenimento e, entre eles, o Load.
Eu estava realmente nervoso e perdido ao estar ali no meio desses caras e acabei trocando ideia com o Load e o Digão, para ver se me acalmava um pouco. Na conversa, acabei sabendo que os caras vinham da mesma região que eu vinha, a Zona Leste de São Paulo, e acabei conhecendo os projetos fodas que eles estavam envolvidos.
Não sei se pelo fato de morar no bairro que ele, ou por outras curiosidades (como o fato de meu pai ter dado aula para ele — coisa que só soubemos depois) acabei me tornando próximo e amigo do Load. Nesse meio tempo, acompanhei o desenvolvimento de alguns de seus projetos — o mais famoso, sem dúvidas, o Rap em Quadrinhos — e, agora, vejo ele iniciando mais um que tem tudo para ter um ótimo resultado, o seu novo podcast, “Loadeando”.
Por conta disso, conversei com ele acerca dessa novidade e outras curiosidades sobre essa iniciativa:
Per Raps : Você já tem há 7 anos um canal no YouTube, produz vários conteúdos para as outras redes sociais e volta e meia é convidado a participar de outros podcasts. De onde e por que surgiu a ideia de ter o seu próprio podcast?
Load: A ideia do Podcast surgiu porque o YouTube anda muito ruim para visualização, divulgação do seu próprio conteúdo. Você se mata para fazer um vídeo e não é tão divulgado como você espera, né?
O YouTube mudou muito a plataforma desde 2012 até estar como está hoje. Fora que o meu público comentava bastante [sobre] quando eu iria entrar nessa mídia, quando eu iria fazer algo do tipo. E aí eu percebi que o meu tipo de conteúdo, de mostrar rap e quadrinho, rap e cultura pop no geral, funciona bem melhor agora em podcast que eu consigo bem melhor trabalhar o lance das músicas, porque, se eu colocar 20 segundos de uma música no YouTube, a chance de dar meda é muito alta.
Por enquanto, no Spotify e nas plataformas que eu estou postando o podcast eu percebi que está bem tranquila essa regra. Eu posso postar a música inteira. Pode dar merda? Pode, mas eu estou colocando 20 segundos até agora e está tranquilo, sabe? Não tem nenhuma diretriz [informando] que vai dar merda até o momento, já que é uma mídia que não é tão explorada assim.
Então essa ideia veio bastante disso, sabe? Da galera pedir, eu precisar modificar meu conteúdo para um lugar onde ele é mais acessível para uma galera, porque meu público está sempre mudando, não é uma galera que está sempre em frente do computador. Eu vejo que é uma galera que está trabalhando, está com algumas responsas e escuta no transporte e isso ajudou bastante a eu ir para essa mídia. Eu estava acostumado só a participar, fazer participações em vários podcasts, como o “Podcast, Mano”, “Renegados Cast”, “MDM”, entre outros, mas fazer o meu é algo doido ainda, eu estou aprendendo.
PR: Da onde saiu o nome “Loadeando”? Além de se relacionar ao seu apelido, é uma referência à música do Marcelo D2, mas tem alguma história por trás dessa escolha?
L: O nome, além de ser uma música do D2 e uma brincadeira com o meu apelido, tem muitas coisas. Eu sou muito ruim para escolher nome de projetos, essas coisas, porque eu não sou tão criativo assim. “Load” [por exemplo] foi a galera do canal que deu, mas o “Loadeando” foi entre várias conversas, tanto de uma galera que já tinha postado no Twitter algo assim: “LoadCast”, “Loadeando”, algumas coisas… mas eu lembro bastante do Ogi também, sempre que a gente se trombava, ele ficava cantando essa música, sabe, do D2? Então, eu conversei com alguns amigos, a minha esposa e tal, e aí a gente chegou na conclusão que era um nome legal de usar, sabe? Tipo, você mesmo chegou a comentar isso comigo, porque eu falei que poderia ser algo muito “egotrip”, e eu falei que não gosto quando fica muito isso, e aí você falou bastante “olha o programa do Faustão, se chama ‘Domingão do Faustão’ [risos], então é normal ter um programa com o seu nome”. Então eu acabei pegando esse nome, que é legal, né? Porque brinca com esse negócio de música do D2, mas também é uma gíria para procrastinar, fora outras coisas. Então, é bem legal que acaba casando com o que o podcast acaba se referindo, né? Isso é bem legal.
PR: Você pretende trazer a galera do Rap para falar sobre assuntos para além da música?
L: A ideia do podcast é ser uma mistura do canal com as coisas que eu já gosto, sabe? Eu não quero trazer um artista só pra ficar falando de música ou as vezes só pra ficar falando de cultura pop. Eu trago aquela pessoa exatamente para falar sobre o que eu acho que ela entende. [Por exemplo,] O niLL eu trouxe para falar sobre o álbum novo dele, porque eu acho legal ter uma mídia aonde a gente discute o conceito do álbum do cara, as ideias que ele teve, o processo… porque a gente não tem isso aqui, sabe? Uma mídia aonde a gente vai ver uma entrevista do cara falando sobre todo o processo criativo que ele teve para o álbum, e eu sempre senti falta disso, porque lá na gringa tem vários canais desse tipo.
A Complex faz isso, a Genius faz isso, e eu acho isso muito da hora. E no YouTube é ruim fazer isso, porque, até você ir no artista, conseguir a agenda dele, é muito complicado. Agora, quando você entrevista ele via Skype, bate 40 minutos de papo e já resolve. Então a minha ideia é falar muito sobre o conceito do álbum do artista e fazer entrevistas com eles falando sobre Cultura Pop, coisas que estejam ligados diretamente com eles.
PR: Quem você quer muito que participe do Loadeando?
L: É muito complicado isso, porque a minha ideia é dar um espaço para todo tipo de artista, desde o cara que está começando, lançando sua primeira mixtape agora e está lá, a gente trocando ideia sobre o conceito e até onde ele quer chegar, até uns caras que já estão consagrados, sei lá, um Racionais da vida assim, sabe? Que já está lá no alto. Então é mais isso: eu tenho vontade de ter essas pessoas. Quem estiver disposto para colar, colar, sabe? Eu não tenho uma pessoa que eu piro muito, tipo “nossa, essa pessoa tinha que estar”. Eu acho que é um espaço que qualquer pessoa pode acessar, desde que tenha a ver com a ideia do projeto.
PR: O que a galera pode esperar do seu Podcast?
L: Não é um podcast de “papo de bar”, aonde eu vou pegar pessoas aleatórias para ficar conversando sobre um assunto sem nenhum fundamento, isso não vai acontecer [risos]. A ideia do meu podcast é muito mais de trazer pessoas que tenham a ver com aquele assunto. Se a gente for falar, por exemplo, de graffiti, vai ter caras que são do meio do graffiti, que estão grafitando há 10 anos, 15 anos, falando como que é ser grafiteiro aqui no Brasil e tudo mais. Não pegar pessoas que nunca se envolveram no meio e que só veem acontecer as coisas.
Então a ideia do meu podcast é muito mais essa, de trazer bastante a cultura Hip-Hop e a Cultura Pop e mostrar como as duas estão envolvidas, de uma forma ou de outra. E eu sempre sozinho, né? Eu sou host e as vezes com algum convidado, porque eu não funciono muito bem em equipe, né? Eu sou muito chato para trabalhar assim, então é muito mais fácil eu conseguir coordenar e organizar o podcast para sair direitinho do que eu formar uma equipe, então é tipo o canal mesmo, só que eu vou poder abranger e me aprofundar melhor sobre alguns assuntos, onde o canal não me dá essas possibilidades.