por Robson Assis

Em uma espécie de selo independente com diversos trabalhos voltados a referências brasileiras, latinas e africanas nasce o Rap do Ben, uma compilação com cinco versões de Jorge Ben misturadas a clássicos do rapBR. Confira a entrevista afinadíssima com Obama Lee Baden, criador e um dos pseudônimos de Mario Cezar Rabello, produtor musical independente que já trabalhou com artistas como o Fino du Rap no single “Cada um sabe o que quer”, de 2009 (produção sob a alcunha de zeromaistrês). Nesta entrevista, ele fala sobre o EP, sobre o projeto Estados Sonidos e também dá uns petardos sobre rap, amadurecimento e musicalidade.

PR: Conta sobre como surgiu a ideia dos mashups com clássicos do RapBR e Jorge Ben.
OLB: Bom, eu não gosto de chamar de “mashup”, não considero o RAP DO BEN assim. Prefiro “remix” ou “versão” hahah. Surgiu em 2011, quando pintou a ideia de fazer uma “versão de aniversário” de Raio X Brasil, dos Racionais, que em 2013 completou 20 anos, e foi um disco muito marcante. Procurando versões “a capella” pela internet não foi possível achar nada. Até rolou uma tentativa de limpar as músicas originais, com a generosa ajuda do técnico de áudio Glauber Alves, mas era quase impossível remover certas frequências sonoras. Aí como tem uma versão de Voz Ativa nesse formato no disco anterior, acabou saindo um remix com trechos de Ponta de Lança Africano, que eu sempre achei que tivesse tudo a ver, essa versão já estava pronta na minha cabeça há muito tempo. Nessa de ir atrás de versões “a capella” de RapBR, nasceu mais uma, dessa vez do PMZ (também com Jorge Ben). Daí saiu a concepção do EP, naturalmente, sem planejar.

PR: Fala um pouco sobre o Estados Sonidos, quem faz parte do projeto e sobre como rolam os lançamentos, a mistura “do branco com o preto, do erudito com o popular, do simples e do sofisticado, do técnico com o espiritual” como diz a descrição do soundcloud.
OLB: Estados Sonidos é como se fosse um selo que abriga vários projetos musicais com nomes diferentes. Rap do Ben por exemplo é assinado por Obama Lee Baden. E todos são a mesma pessoa. Assim como Marcelino Freire tem mania de encontrar palavras dentro de palavras, a minha é mudar as palavras ou dar-lhes outro significado, ou o mesmo significado, mas com outra palavra parecida. Essa história nasceu ali nos meus primeiros contatos com o Anarquismo, mas vou encurtar o roteiro. Estados Sonidos, é um conceito que sugere a existência de um território ou territórios que são “Unidos” pelo som, que operam e cooperam entre si, sem distinção sonora, barreiras ou fronteiras (preconceitos). Sendo todos Unidos pelo som, o elo comum, independente do micro, a constante troca de informações no macro e a horizontalidade, permite que esses Estados (os gêneros musicais), autônomos e jamais autoritários, mantenham suas singularidades mas sempre dispostos a trocar com o outro. Esses Estados/Territórios fazem parte do planeta onde habitam as ideias.

PR: Rolou inclusive um som do Fino du Rap, primeiro som do perfil do soundcloud. Fale um pouco sobre esse single de 2009.
OLB: Esse remix foi feito depois que saiu o disco do Fino, Quarto Mundo. Não me lembro como aconteceu a proposta. Quem assina essa produção é zeromaistrês, num Marcos Valle emprestado e respeitosamente recortado. Aliás, projeto esse (zeromaistrês) que tem por príncipio fomentar a desconstrução/reconstrução de músicas, que também tá lá no soundcloud. Acho o trabalho do Fino du Rap sensacional e pra mim é sempre gratificante trocar sonoridades com ele e o Fzero.

PR: Jorge Ben é uma figurinha carimbada nos samples do RapBR, assim como Tim Maia e muitos outros. Muitos artistas vem fazendo um som envolvendo outros ritmos como o afrobeat, o samba, o dub etc. Dá pra estabelecer um paralelo com uma certa evolução estética no modo de fazer rap no Brasil?
OLB: Estética sim, mas antes ideológica, de maturidade. O Rap no Brasil ainda é um adolescente – opinião pessoal minha – e está aos poucos entendendo o que é ser músico e fazer música. Não que já não tenha existido quem vislumbrasse isso, mas era raro. Se você tentasse fazer algo diferente, era excluído, a não ser que já fosse um medalhão, tipo um Thaíde e Dj Hum. As experimentações com outros gêneros que não fossem o Funk/Soul brasileiro sempre aconteceram e o mais legal é que foi tudo espontâneo, sem a formatação da grande mídia, que é o que sempre nos fode. E são os ousados que abrem mais caminhos, possibilidades. Ou você acha que o Potencial 3, Faces do Subúrbio ou até o Ascendência Mista, só pra citar alguns, não tem nada a ver com isso? Ouço os ecos deles hoje em dia.

PR: Existe uma pretensão em lançar algo novo no futuro envolvendo o rap neste sentido? Fala um pouco do que vem pela frente.
OLB: Tem muito trabalho acumulado, de rap e outros gêneros, mas que vão sair aos poucos. Por ora, está na fase de mixagem um Ep, que vai se chamar Afro Sam Bass, etapa essa realizada por Wagner Bagão, do Dubalizer, um mestre da música grave no Brasil. Não é bem Rap, até mesmo porque as influências são diversas, mas as batidas e o grave estão lá. Era pra ter saído em fevereiro, mas como diria Nietzsche “o baguio é doido e o processo é lento”.

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