O último clipe de Emicida, “Boa Esperança”, quebrou a internet com milhares de views e comentários gerados pela discussão que o vídeo levanta. Ponto para o rap, que sempre foi livre para falar do que quisesse, mas desde seu início provocou e defendeu o oprimido, unindo ritmo e poesia com inspiração dos artistas de um lado e o suor das dificuldades do dia a dia do outro.
No início do mês de junho, outra grande produção do rap fez barulho na web, dessa vez com Billy Saga e seu clipe “Derrubo um Rei”. A ideia do clipe surgiu a partir de uma música de Emicida e mostra mais um dia em uma das periferias de São Paulo. Um trabalhador desempregado consegue finalmente uma entrevista de emprego e parte em sua jornada com a benção da mãe e o carinho da esposa. Na rua é abordado por THC e Anfetamia, que depois de uma desavença, levam o trabalhador para participar de umas ‘fitas’. Refém, o homem honesto se vê aplicando golpes pela quebrada, até que sua sorte muda e o vento passa a soprar a seu favor.
O terceiro clipe de William Coelho, o Billy Saga, tem direção de Eduardo Ramos e ainda conta com todos os recursos de acessibilidade – audiodescrição, legendas e janela de libras através do aplicativo WhatsCine. A faixa “Derrubo um Rei” estará presente no segundo álbum de Billy Saga, As Ruas Estão Olhando, previsto para ser lançamento no segundo semestre de 2015.
Aproveitamos a deixa para bater um papo com Billy. Se liga:
“A parada é assim: quem quer fazer algo, encontra um meio. Quem não quer fazer nada, encontra uma desculpa” – Billy Saga
Per Raps: Como foi possível viabilizar um clipe com personagens, gravação de primeira e todo esse cuidado na produção?
Billy Saga: Mano, foi necessário fazer as coligações certas. Todo mundo no projeto trampou na faixa, ninguém ganhou um real, até porque não tinha. Eu escrevi esse roteiro numa brisa ouvindo a música “Santo Amaro da Purificação” do Emicida. A idéia inicial seria fazer um curta metragem e esse som fecharia o filme. Mas aí comecei escrever o roteiro e pensei que poderia ser um videoclipe meu. Nada mais justo né!? (risos). Meu parça Eduardo Ramos, diretor de cinema experiente, já queria fazer um clipe meu, mas antes de falar com ele, coliguei o Rodrigo Sodré que trampava na Som em Cena com meus manos Dudu Contreras e o Mauzito e tinham os equipamentos (câmeras) pra filmar. Falei com o Edu Ramos, que curtiu o roteiro e acionou mais uns comparsas que eu já conhecia – Vadico (câmera) e Alfredinho (técnico de som) e me apresentou a Estelinha pra trampar na produção -, aí o bonde tava formado. Sodré chamou Juliens da Air Frame. Acionei os atores (tudo irmão!) e corremos… corremos muito, que nem loucos e em 4 diárias, as vezes trampando 16 horas direto antes de parar pra comer, filmamos tudo.
O mais louco foi a vibe boa das locações e da galera. Filmamos na Casa da Tia Cida, em São Matheus e na Favela do Goteira, Serra Pelada e Vila Gomes. Chegamos na bola de meia, falamos com o ‘comércio’ local da comunidade, até porque não é qualquer um que pode subir um drone na favela. A casa do patrão, filmamos na casa do Luis e da Nádia, no Ipiranga. Todo mundo trampou pilhado, com sangue no olho. Dava pra ver o olho da rapa brilhar. Foi mó satisfação, mano.
Pra editar foi mó treta porque eu não tinha dinheiro. Até acionei uma produtora de um conhecido que abraçou editar, me cozinhou 2 meses e pipocou. Solução: além de escrever o roteiro, cantar o rap, atuar como personagem, tive que aprender a editar, tio. Meti as caras, tive uns toques dos manos que filmaram e pra finalizar chamei outro parceirão, Guto Armani, que compareceu pra fazer a arte. A parada é assim: quem quer fazer algo, encontra um meio. Quem não quer fazer nada, encontra uma desculpa. Prefiro sempre a primeira opção.
Per Raps: Qual é a mensagem de “Derrubo um Rei” aos olhos do autor?
Billy Saga: A mensagem é que se voce quer ser feliz tem que correr atrás, mano. Tem que acreditar em sí mesmo, tem que ser ousado porque pra por pra baixo, o sistema tem uma par de artimanha. Sempre pra te atrasar. Tem que ser sagaz pra Derrubar o Rei, senão o Rei te escraviza. E não existe atalho. O caminho do bem muitas vezes é tortuoso e é sempre subida, não tem massagem. Mas se prestar atenção, se for perspicaz e insistente, tomar a atitude na hora certa e lá na frente cê colhe o bem, mano. Essa lei não falha!
Per Raps: Quais são os seus 3 clipes preferidos de rap, sejam eles nacionais ou gringos?
Billy Saga: Potz, só 3? (risos) Gosto muito de ‘A área’, do Shawlin, ‘Fight The Power’, do Public Enemy e ‘Califórnia’ Love, do Pac e Dre.
“A mudança cultural é lenta, mas é pique trabalho de formiga: um pouco por dia, mano” – Billy Saga
Per Raps: Apesar das mudanças nos últimos anos e o aumento de representantes de grupos fazendo o chamado rap pop, ainda cabem rimas de protesto?
Billy Saga:
Ritmo e poesia tio, dá pra falar do que voce quiser. Liberdade de expressão irmão, você pode escolher o quiser falar, basta bancar o que fala.
Per Raps: Como vai a produção do novo álbum, As Ruas Estão Olhando?
Billy Saga: Faltam umas 3 música. Tem 12 prontas. Aí vou juntar tudo e ver quais realmente entram no álbum. A música ‘As ruas estão olhando’ (música tema) já tá pronta. Foi inspirada numa fala do KL Jay no ‘KL Jay na Batida – Vol III Disco 2’. Na verdade, ela tá quase pronta, ainda vou pedir na humilde que o KL Jay faça os scratchs. Quem sabe, tô na torcida! (Alguém tem o contato dele aí?)
Per Raps: Conte pra gente um pouco do seu trabalho como consultor da Associação ‘Mais Diferenças’ e presidente da Ong Movimento SuperAção.
Billy Saga: Quando uma viatura da PM passou num farol vermelho e me atropelou com a minha moto (1998) eu me tornei cadeirante e passei a sentir na pele o que essa parcela da população (24% da população do Brasil tem alguma deficiência) passa de veneno no dia a dia. Resolvi fazer algo pra mudar esse panorama de exclusão e de violência que sofremos com o preconceito, falta de acesso arquitetônico, falta de informação. Hoje, estou presidente da ONG Movimento SuperAção e consultor da Mais Diferenças, atuamos através de projetos socioculturais tentando sensibilizar a sociedade leiga sobre os direitos da pessoa com deficiência e trazer essa galera pra protagonizar o processo de inclusão. A mudança cultural é lenta, mas é pique trabalho de formiga: um pouco por dia, mano.
Essa é a minha missão.
Billy Saga: Fiquem ligados na fanpage aí que em breve mando novidades!
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