por Robson Assis
“eu me permito viajar / pelas frequências do som / e no quadro que aqui vou pintar / cada cor é um tom”
Cruz é o novo disco do Elo da Corrente como frisamos aqui na última semana durante aquela audição manera para convidados. Pois aqui vão alguns disparos, pensamentos e constatações sobre o disco que vai ser lançado agora neste começo de setembro.
Em um trabalho explicitamente bem escrito, “Cruz” não conta histórias, mas destrincha os sentimentos, dichava a vida. Traz a agressividade ponderada nos passos de uma galera que nasceu para elevar a essência do rap feito no Brasil. Com rimas cabulosamente literárias e imagens bem construídas gingando por cima de um tapete monocromático de batidas precisas e feitas por um time de classe que traz Arthur Verocai, Lucio Maia, Mauricio Takara e tanta gente de garbo e elegância, o disco chega às ruas cumprindo toda uma certa responsabilidade.
O álbum celebra com chave de ouro um fim de hiato em que o grupo se encontrava desde 2009 quando saiu o não menos excelente “O Sonho Dourado da Família”. Num ambiente foda, tenho escutado este disco à exaustão, como se minha vida dependesse disso e posso dizer que quando algum dos exímios colaboradores deste site presente na audição disse algo sobre a experiência musical que este disco proporciona, acabou por definir a parada: “Cruz” é sobre a experiência. Um disco calmo, embora denso e até um tanto melodicamente complexo, foi feito para você relaxar ouvindo uma construção poética de notável esmero, com a dedicação de quem sabia que estava por lançar um disco marcante para o rap, para a própria carreira.
Em construções musicalmente cabulosas, Cruz traz dez canções com mixagem do Fernando Sanches do El Rocha e masterização do Dave Cooley (Common, Madlib e J-Dilla) no Elysian Masters de Los Angeles.
Acho que a grande sacada de “Cruz” é a exaltação à música de raízes africanas e característicamente brasileira de maneira não escrachada, sem apelos, muito pelo contrário: cada beat traz uma alma particular, única, de acentuada personalidade. Não me entenda errado: neste disco, Pitzan, Caio, PG e companhia não fazem exatamente uma homenagem, mas criam um trabalho contemporâneo único e desenvolvido com o melhor da música instrumental feita por aqui em um rap cheio de marra, personalidade forte e suíngue (tem que ter, né?).
Faixa a faixa, Rima a rima
O novo disco do Elo da Corrente abre com a elegância de “Sobre o infinito e outras coisas”, mantém uma sequência pesada em “Ave Liberdade” e o mood imagético de “Memórias” e “Naja” que traz talvez o trecho mais legal do disco (um dos trechos que mais me pegou, pelo menos):
“A reza que ninguém enxerga toda manhã
A regra da viagem: não morder a maçã
Atesta que o momento é muito mais que a vã
Filosofia de tentar mudar o mundo amanhã”
Na sequência, “Cruz” vem em clima de paz e diz como “a verdade é uma terra sem caminhos”, outra expressão linda deste trampo.
Em seguida, duas empolgantes: “Salutaris” com a participação de Rodrigo Brandão e “Alegria”, a sétima das dez canções num clima pop, dançante, otimista, dando espaço para “Batucada Fantástica”, que arrisco dizer ser a melhor do disco.
“Tríade” começa o encerramento do disco com um trecho de Drummond himself recitando trechos de seu belíssimo poema “Mãos Dadas”. O disco finaliza com “Koan” que tem um um clima de roll credits para dar o ponto final deste LP monstro.
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