A maioria dos artistas passam processos de desconstruções artísticas e pessoais ao longo da carreira. Cada álbum é uma foto, uma captura que o artista faz de si próprio, mas capaz de transformar em música. Emicida classificou esse fenômeno como ‘emicidio’ – título da mixtape de 2010 –, ou seja, cada nova experiência é um processo matar partes de você, para dar lugar à novos pensamentos.

Abebe Bikila é um desses artista que passa por mutações e amadurecimentos. Antes de falar do novo álbum, voltamos à 2015, quando nas ruas do Catete, Glória e Lapa, surge o Nectar Gang e a banca do Bloco 7. Originais, o grupo renovou a cena carioca e deu vida à mixtape Seguimos na Sombra, com temas mais introspectivos, dentro da realidade das ruas do Rio, mas com um clima mais sombrio.

Em sua estreia solo, no ano seguinte, com Castelos e Ruínas, Bk’ apresenta a mesma personalidade, características e visões do Nectar, não à toa que abre o trabalho com Sigo Na Sombra. Mesmo apresentando um trabalho considerado um clássico contemporâneo, o rapper fluminense fez questão de enterrar parte dessa personalidade no mesmo projeto, quando finaliza em busca d’O Próximo Nascer do Sol.

Após dois anos de hiato, o rapper se reconstruiu. Leituras como de Frantz Fanon e Achille Mbembe fizeram parte dessa nova fase e na lapidação de Gigantes, álbum lançado em 2018. O disco traz um discurso forte e é responsável pela sua consolidação. A partir dali, mostrou que merecia lugar numa prateleira mais alta, mas sabia que ainda precisava sustentar essa posição.

LÍDER > GIGANTE

Então, vem mais uma evolução. Essa é a palavra que define esse processo de transformação do Bk’. Certo de que é preciso ir além do tamanho (leia-se hype), ele sabe que ser só um gigante não é sua intenção. Sua busca é por ser líder, mas não hegemônicos. É preciso criar e despertar novos líderes. Esse é seu movimento para um novo ciclo.

Melhor que um líder sábio, é só um povo sábio”, assim exemplifica sua visão na faixa “Pessoas”. A responsabilidade que busca é maior do que ser grande, mas ser exemplo e resgatar esse sentimento em outras pessoas. Nesse sentido, o disco começa tratando sobre construção e motivação, ao decorrer aborda as conquistas, mas finaliza com o a sensação de desprendimento material.

Se na primeira versão de “Porcentos”, Bk’ falava sobre a necessidade de retorno para seu envolvimento, como rima no verso “Primeiro me ame, depois me cobre amor”, agora, na segunda parte do som, deixa explícito que sua vitória precisa retornar à cena e, principalmente, ao povo preto: “Eu não gasto, eu invisto. Eu reparto e conquisto. Consumir de nós, a grana volta”.

O seu objetivo é criar vida, “ser o sol” e fazer sua comunidade brilhar, como já almejava anos atrás. Sabendo do papel que tem como exemplo e inspiração para uma nova geração, Bk’ quer mostrar um norte, mas com um sentimento de troca. É uma celebração da ousadia de acordar todos dias para tentar melhorar, conquistar seu dinheiro e poder reparti-lo.

O Bk’ de Castelos buscava um equilíbrio pessoal, diante da dualidade. Depois, mostrou-se enérgico e potente, como homem preto. Agora, aos 31 anos, considerado um dos maiores dessa geração, quer liderar uma nova safra e apresentar o caminho da vitória.

Não importa quem vai chegar em primeiro. E, sim, onde tu quer chegar. Qual tua meta? Mostra”.

Universo – bk’

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