Não é de se espantar em algumas rodas sobre rap que você escute frases como “o trampo de tal rapper é mais música, sabe”, ou “aquilo não é rap, é música” (sic). E todo este debate sobre o que é música ou não excluindo o rap não faz muito parte da ideologia do Per Raps. O rap, seja feito com colagem, samples conhecidos, loops de músicas velhas, instrumentos ou caixinhas de fósforo usadas pela metade é música, sim senhor.

Cabe ao artista saber como usar em seu trabalho aquilo que se apresenta como necessário para o momento da sua carreira. Como lidar com a abordagem às batidas festivas, ou saber explorar a realidade avassaladora em beats mais lentos e pesados. Esse é o rap. Ponto. O contrário disso é um pensamento ultrapassado e que sem saber acaba desqualificando toda música feita pela cultura hip-hop, neste caso, o rap.

Rael da Rima, ou apenas Rael, lançou seu novo disco “Ainda bem que eu segui as batidas do meu coração”, um dos mais esperados deste ano e, sem dúvida, uma das promessas mais atuantes dentro do cenário nacional. Com um disco de musicalidade impecável, o rapper ganha todo seu público em rimas surpreendentes, já conhecidas pelos seus antigos trabalhos junto ao Pentágono e em seu primeiro disco “MP3 – Música Popular do Terceiro Mundo”, que trazia expoentes musicais bem apresentados e que serviram como uma boa amostragem do que viria por aí.

O grande trunfo deste novo trabalho do Rael é saber trabalhar sobre ritmos encaixando-os muito bem com os temas. É aquilo de saber o que falar quando está sobre um reggae, ou sobre as coisas do coração num lance mais folk e desapegado. E ainda assim, “Ainda bem…” trata-se de um disco aflorado e que tem os traços de seu primeiro trabalho por manter acesa toda essa musicalidade à flor da pele que Rael tanto está acostumado a lidar, mas talvez envolto em algo ainda mais profissional e com uma intenção de apego ao pop, a construção do disco.

Excelentes participações, a propósito. Poucas e bem pensadas, como “Tudo vai passar”, com o companheiro de Pentágono Msário; Mariana Aydar, em “Coração” e a excelente versão de “Oya”, com Emicida e Péricles somam e amplificam a experiência auditiva deste disco.

Com produção assinada por K-Salam, Beatnick e Laboratório Fantasma, o rapper usa todo o seu talento para dar espaço a uma nova cena de rap brasileiro que, talvez com a ascensão do trabalho do Criolo, comece a tomar este quesito “musicalidade” com mais cuidado e amparo. Não há demagogia aqui, ou qualquer espécie de debate entre o que é rap ou não. O rap é música e o que Rael trouxe com seu novo trabalho prova que saber utilizar de todos os recursos disponíveis à sua mão podem fazer o artista ter em sua carreira uma obra simbólica e marcante, como neste novo disco.

Ouça e baixe “Ainda bem que eu segui as batidas do meu coração” no site oficial do rapper e compre o disco no site do Laboratório Fantasma.

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