Nas ondas de sintetizadores e do amor
– por Raphael Morone
Quando ouço as músicas da Mahmundi, lembro sempre de “O Mundo Funk Carioca”, dissertação de mestrado do Hermano Vianna, onde, junto com um certo Dj Marlboro, percorrem centenas de bailes espalhados pelo subúrbio do Rio de Janeiro e presenciam a história acontecer: a transição da soul music e do funk para o miami bass que dariam, logo no início da década seguinte, a origem do funk que conhecemos hoje.
O caminho da artista carioca é outro, surgiu fora dos bailes. Contudo, é possível, sim, colocá-la nessa árvore genealógica da música negra produzida no Rio. Seu trabalho tem influência do funk melody, versão mais romântica do funk, notada pelas batidas secas dos sintetizadores e principalmente nas letras de amor, com esmero que também remete às melhores fases da Marina Lima. Os caminhos sonoros não são iguais, mas traçam uma linha paralela na história.
No seu disco de estreia, a cantora, que também é talentosa na arte de compor, vai ainda mais além, conseguindo expandir a referência das melodias, indo de uma batida reggae no melhor estilo oitentista em “Hit” até a suave “Leve”.
O grande destaque, porém, é “Calor do Amor”, que já tinha sido divulgada antes do lançamento da produção e tem levada pop, remetendo as melhores composições de Guilherme Arantes, com direito até piano na pegada de “O melhor vai começar” do músico paulista.
Em essência, a trajetória da Mahmundi, agora coroada pelo lançamento do seu primeiro álbum, é a continuidade dessa história do baile funk e da música negra, que não começou com os pancadões, tamborzões e proibidões, e sim há 40, 50 anos atrás, com alguns jovens fanáticos por James Brown.