– por Savana Azolini (@savana_azolini)

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Copa do Mundo (e a França ganhava como neste ano), “Titanic” (foram 11 estatuetas do Oscar) e a grande perda de Tim Maia movimentaram 1998 em diferentes sentidos. Mas foi no universo musical que alguns álbuns e singles de rap e r&b se tornaram eternos e moldaram o que estava por vir. Para relembrar, selecionamos 22 tracks que completam 20 anos e as reunimos nesta playlist que acompanha o nosso super Especial Discos de 1998.

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Entre “Follow Me Now”, de Juvenile, “Human Language”, de Aceyalone, “Whatcha Gon’ Do”, de Snoop Dogg, “Uncut, Pure”, de Big Daddy Kane, e “Ruff Ryders’ Anthem”, de DMX, 1998 trouxe outros grandes clássicos, como “You Know My Steez”, de Gang Starr, “Gimme Some More”, de Busta Rhymes, e “Tru Master”, de Pete Rock.

Entre as nacionais, aqui a gente destaca “1967”, do álbum “Eu Tiro É Onda”, primeiro solo da carreira de Marcelo D2. O nome da música remete ao ano de nascimento de D2 e mostra uma biografia sensível de sua vida, passando pelos os lugares na cidade do Rio de Janeiro que o  formaram, além de suas principais influências na música. Tudo embalado com o sample de “Canto de Ossanha”, do mestre Baden Powell, o que deixa o relato ainda mais especial e único.   

Câmbio Negro, grupo de Ceilândia, no Distrito Federal, aparece aqui com “Esse é meu País”, uma letra cheia de sonhos que, mesmo 20 anos depois, ainda lutamos para que se realizem. Da clássica e fundamental primeira coletânea do Espaço Rap, da 105FM, tiramos duas pérolas de 1998: “Emanoel”, de Guind’art 121, do Distrito Federal, e “A Vingança”, do grupo Face da Morte, formado em 1995 em Hortolândia, interior de São Paulo.

Pensar no ano de 1998 é naturalmente lembrar do single “Doo-Wop (That Thing)”, de Lauryn Hill. A música se torna tão especial por ter essa aura de testemunho pessoal em sua letra (“Now, Lauryn is only human. Don’t think I haven’t been through the same predicament”, que significa, em tradução literal: “Agora, a Lauryn também é humana. Não pense que eu já não passei pelo mesmo dilema”), um diálogo direto, honesto e consciente que consegue abordar  temas complexos como objetificação sexual e machismo, dando todo protagonismo ao poder feminino, como no trecho abaixo:

“Don’t be a hard rock, when you really are a gem. Baby girl! Respect is just a minimum” (“Não seja uma rocha dura quando você na verdade é uma pedra preciosa. Meu amor, respeito é o mínimo que ele te deve”)  

Essa faixa ficou em primeiro lugar na parada Billboard 100, em fevereiro de 1999, e foi um grande passo para o feminismo, trazendo essas ideologias para um público ainda mais amplo. O clipe é uma obra à parte, e foi vencedor na 16ª edição do Video Music Awards, da MTV (1999), levando os prêmios de melhor videoclipe de R&B, melhor direção de arte e melhor videoclipe do ano, o prêmio mais importante da noite.

“Brown Skin Lady”, de Mos Def e Talib Kweli, registrada no disco colaborativo BlackStar, também é um clássico e um ótimo exemplo de como se falar de sentimentos, dessa vez com um amor mais romântico, mas, mostrando respeito e até veneração pelas mulheres negras (sim, nós merecemos e muito), sem a ostentação de padrões de beleza. “ Without makeup you’re beautiful. Whatcha you need to paint the next face for. We’re not dealin’ with the European standard of beauty tonight. Turn off the TV and put the magazine away. In the mirror tell me what you see. See the evidence of divine presence” (“Sem maquiagem, você é linda. O que você precisa para pintar a próxima cara? Nós não estamos lidando com o padrão europeu de beleza esta noite. Desligue a TV e coloque a revista no espelho, diga-me o que você vê. Veja a evidência da presença divina”).

A voz inconfundível de Brandy transforma o sentimento de amor único e eterno em algo muito mais profundo com “Never Say Never”. Essa track, ao lado de “The Boy Is Mine”, conseguiu torná-la uma das cantoras mais influentes e importantes da cena R&B. “Love Like This”, de Faith Evans, também é uma entrega ao amor, mas o sample de Chic Cheer (Chic) deu a ela uma pegada muito mais leve e dançante. A faixa "No, No, No (parte 2)”, com a participação de Wyclef Jean, também fez muita gente dançar com todo aquele clima de flerte e paquera da letra (insira aqui mais gírias antigas rs) e ainda foi um dos responsáveis pelo grupo de R&B Destiny’s Child levar o prêmio de melhor álbum do ano de R&B/Soul no Soul Train Lady of Soul Awards. Para se ter ideia do sucesso, mundialmente o disco vendeu mais de 3 milhões de cópias.

Um clássico  fundamental é “SpottieOttieDopalicious”, faixa de “Aquemini”, terceiro disco de Outkast. O grupo Hypnotic Brass Ensemble já fez uma cover dela e Beyoncé a sampleou no final de “All Night”, do álbum “Lemonade”, para provar que um som quando é eterno não tem limites para se reinventar.

E mais do que a própria música, o clipe de "Intergalactic”, do Beastie Boys, fez um sucesso enorme nas paradas, com uma verdadeira narrativa de ficção científica com elementos espaciais, científicos e um robô gigante destruindo a cidade de Tóquio. A música foi composta a partir de  samples do tema do filme de 1985, “The Toxic Avenger (1985)”, e de trechos do “Prelude em C # Minor”, de Les Baxter, composta por Rachmaninoff. O grupo chegou a ganhar dois Grammy no ano seguinte de lançamento: melhor álbum de música alternativa com “Hello Nasty”, e melhor performance de rap de um duo ou grupo com “Intergalactic”.

Entre outros discos que também não saíam dos fones estão “The Love Movement”, do A Tribe Called Quest, que trouxe o single “Find a Way”, com o inconfundível sample de “Technova”, de Towa Tei com Bebel Gilberto; “He Got Game”, sexto álbum do Public Enemy, lançado pela Def Jam, que também é trilha sonora do filme homônimo de Spike Lee, daquele ano.


Apesar de muitos sons (principalmente os nacionais) ainda não estarem disponíveis em plataformas digitais, a seleção foi feita para dar aquele gosto de como era a energia musical de duas décadas atrás e mostrar que 1998 foi muito mais do que um ano de grandes sucessos, mas um período importante e de grandes mudanças no rap e R&B, que influenciou totalmente a cena musical que conhecemos atualmente. Que venham mais reinvenções sem nunca esquecermos dos clássicos que nos criaram! 

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