O ano de 2020 será lembrado por muitas coisas, provavelmente mais pela pandemia de covid-19 e seus efeitos, mas também pelos protestos anti-racistas mundo afora. Enquanto a sociedade parece avançar com mais espaço para a diversidade em empresas, no cinema e em outros importantes e visíveis espaços da sociedade global, pessoas negras seguem sendo alvo da brutalidade policial.

Nesta quarta-feira, 26, a NBA, liga nacional de basquete norte-americano, teve jogos cancelados em protesto ao ataque brutal de policiais a Jacob Blake, homem negro que recebeu sete tiros nas costas após separar uma briga e enquanto caminhava para seu carro, em que seus três filhos o esperavam. Primeiro, um dia antes, 25, o armador Chris Paul (Oklahoma City Thunder) citou o caso de forma emotiva numa entrevista pós-jogo, mesmo tendo conseguido uma vitória marcante, sua opção foi deixar o esporte de lado.

Depois, no jogo seguinte, LeBron James (Los Angeles Lakers) fez o mesmo após ganhar uma importante partida no Mamba Day, data escolhida para celebrar a vida de Kobe Bryant, que nos deixou em um acidente no começo do ano. Mas foi na quarta que tudo mudou quando Milwaukee Bucks, um dos favoritos ao título, decidiu não entrar em quadra em protesto ao ocorrido, já que tudo se passou em uma cidade próxima e no mesmo estado desse time, Wisconsin.

Você pode estar se perguntando “ok, legal o protesto, mas o que muda com isso?”. A NBA é uma das maiores ligas de esporte do mundo, movimentando milhões de dólares em contratos de TV, venda de material esportivo, comerciais e influenciando jovens globalmente, por isso, uma paralização afeta diretamente toda essa audiência. Ela obriga a todos que acompanham os jogos a ter conhecimento do protesto. Isso muda efetivamente algo?

Não diretamente, mas foi exatamente isso que disseram ao jogador de futebol americano, Colin Kaepernick, há quatro anos e ainda assim ele seguiu protestando, ajoelhando-se durante o hino nacional antes dos jogos do seu time, o San Francisco 49ers. Duramente criticado a época, acabou sem contrato, fora da liga, mas plantou uma semente que hoje atletas da NBA estão propagando.

A movimentação dos esportistas fez com que jogos da WNBA, a liga americana feminina de basquete, jogos da MLS, liga de futebol americana, Naomi Osaka, tenista prestigiada da nova geração, o time feminino de futebol do Corinthians aqui em São Paulo e tantos outros a realizarem seus próprios protestos, se recusando a atuar. O que parecia ser algo pontual, se espalhou. E rápido.

Contexto

Antes da volta dos jogos, grandes nomes da NBA participaram de forma ativa de protestos pela morte de George Floyd e Breonna Taylor, ambos assassinados por policiais, e aceitaram voltar para a Liga desde que suas vozes tivessem espaço para trazer luz a questão do racismo. E tiveram por meio de palavras de ordem nas camisas de jogos, com camisetas de treino e quadra com a frase “Black Lives Mater” e abertura para abordar o tema em entrevistas. Não foi o suficiente e jogadores como Kyrie Irving alertaram que essa volta seria uma distração para os protestos.

BRANDON BELL / AFP

Foi uma distração? Talvez, mas é essa a plataforma que esses atletas possuem para que suas vozes sejam amplificadas para o mundo. Pensando por esse lado, sem o jogo, sem a liga, esses atletas perdem a potência de suas vozes. Mas como jogar em meio a tanta dor e revolta? Isso impactou diversos jogadores como Paul George, ala do Los Angeles Clippers, que falou de estar mentalmente em um “lugar sombrio” em entrevista, assim como jovens como Malcolm Brogdon, Jaylen Brown ou Fred VanVleet, que nunca perderam o foco na denúncia a da injustiça social.

Ainda não se sabe como será o futuro da NBA, mas jogadores se reuniram e decidiram continuar os jogos. Porém dois times não concordaram: o Lakers, de LeBron James, principal jogador da liga hoje, e o Clippers, times da mesma cidade e principais rivais da atualidade. A atitude de LeBron é louvável, uma vez que ele já foi favorável a volta das disputas no passado e carrega o peso e cobrança da torcida de ganhar mais títulos, além disso, a cada dia está mais próximo de encerrar a carreira por conta da idade.

O que deve acontecer? Provavelmente, um acordo entre NBA, jogadores e patrocinadores para intensificar protestos e cobranças, mas seguindo com os jogos. Afinal, tem muito dinheiro envolvido nisso tudo. Mas não se espante se a disputa dessa temporada for cancelada.

Vamos seguir acompanhando enquanto esses heróis, negros de pele em sua maioria, altos de estatura e cheios de propósito não morrem de overdose, e sim lutam por direitos das minorias e contra o racismo e a brutalidade policial.

Vale lembrar

Esses protestos não aconteceriam sem desbravadores como Muhammad Ali, boxeador provocador que usava sua plataforma para falar de questões sociais em suas entrevistas, Tommie Smith e John Carlos, corredores da icônica foto com punhos erguidos ao receberem medalhas nas olimpíadas do fatídico ano de 1968, Mahmoud Abdul-Rauf, jogador da NBA que fez o mesmo que Kaepernick muitos anos antes e acabou banido da liga, Maya Moore, jogadora de basquete que luta pela inocência de um homem negro condenado injustamente, e tantos outros, que colocaram suas carreiras e vidas em risco para combater o racismo e a injustiça.

Getty Images

Mais

Sexta-feira tem live sobre o tema com Marcílio Gabriel e Eduardo Ribas, no Instagram e depois no YouTube. Teremos também um podcast falando do boicote da NBA em breve. Fique ligado! 

Não deixe de ouvir também o cast com Eduardo Ribas, Marcílio Gabriel e Oga Mendonça sobre os protestos que eclodiram pelo mundo após a morte de George Floyd em decorrência da brutalidade policial.

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