image


Talvez você não saiba, mas a Rinha dos MCs completa 9 anos nesse importante mês de novembro. São nove anos de participação na formação de MCs diversos, incluíndo Emicida e Rashid, abrindo espaço para o rap em diferentes espaços culturais na cidade de São Paulo e outras cidades do Estado, além de criar conexão com coletivos diversos espalhados pelo país. Se você acha que essa tarefa é fácil está bem enganado. Ainda assim, o projeto foi aos poucos se fortalecendo mesmo com poucos recursos. “Realizar a Rinha enquanto projeto é algo muito complexo porque exige do realizador a concepção de encontrar uma forma de diálogo entre o artista e o mercado, como qualquer manifestação cultural, essa ponte requer muitos saberes e muito dinamismo para lidar com as multiplicidades de situações”, explica Amanda Ferreira Gomes, coordenadora de produção da Rinha dos MC’s desde 2011.

E foi exatamente a organização que garantiu a sobrevivência do projeto, uma vez que o tempo ficou cada vez mais escasso a partir do lançamento de “Nó na Orelha”, primeiro disco de Criolo. Ele e Dandan, fundadores da Rinha dos MC’s, passaram então a fazer a turnê do disco, dificultando a manutenção dos eventos, e foi então que os dois decidiram dar um próximo passo nessa caminhada. “Eu e Criolo tivemos dificuldade de ficar a frente do projeto, como estivemos por anos, portanto a continuidade das ações da Rinha foi possível porque optamos em expandir e dividir os corres com um coletivo maior, dividindo tarefas e curadoria”, confessa o DJ DanDan. A partir daí, Criolo virou “fundador de honra”, podendo também opinar e decidir sobre projetos, DanDan começou a atuar na gestão e curadoria, só que agora junto de um coletivo que inclui uma coordenadora de produção e uma assessora entre seus participantes.

Apesar de seu lema, que na verdade é um de seus ganchos mais famosos,  "Quem quer ver sangue?“, a Rinha dos MC’s não traz temas específicos, como é o caso de outras batalhas de freestyle, mas não aceita insultos contra a mãe ou a irmã do adversário, palavrões e questionamentos sobre a orientação sexual do oponente. “Outras expressões de desrespeito não são permitidos, no caso de racismo e machismo deixamos o adversário se colocar e caso a resposta não seja plausível o apresentador toma a frente do assunto aproveitando a oportunidade para alertar os males desse tipo de colocação”, pontua DanDan. 

Mas como atuar no processo de formação de um MC em um momento carente de educação, em que o governador de São Paulo fecha escolas ou que representantes da cena rap se alinham à partidos de direita para rimar sobre temas burgueses?  “O lance é que sempre vai existir pessoas com intenções de manipular o povo usando a própria cultura contra o povo sem haver percepção disso. Por parte do povo, talvez porque a máquina é corrosiva mesmo e os espaços de construção crítica nas quebradas são escassos, então infelizmente muitos do Hip Hop caem nesse jogo e se deixam levar pelas ofertas do capitalismo com pouco senso crítico, pelo glamour dos palcos, pelo sonho americano, e os mais novos que estão formando opinião seguindo seus artistas ícones, comprando ideia enlatada. A juventude periférica precisa de espaços de formação, espaços para diálogo”.

image

“Eu penso que se você está em um deserto com muita sede e te oferecem água suja, sem outra opção você vai beber sem questionar. Nosso papel não só como Rinha dos MC’s, mas como membros dessa cultura maravilhosa chamada ‘Hip Hop’ é ao menos despertar a percepção desses jovens para que possam questionar realmente o que é apresentado pra eles” 

Pensando nisso, DanDan e o coletivo da Rinha dos MCs tem como uma de suas principais metas lapidar os diversos talentos que surgem hoje no rap por meio das batalhas e também de workshops e palestras. E não é só o MC que tem destaque. “Desde 2012 procuramos realizar o Festival de Hip Hop em comemoração ao aniversário da Rinha expandindo a concepção do MC porque entendemos que a transversalidade das artes que o Hip Hop propicia envolvendo o graffiti, o DJ e a dança é um fator da própria cultura que favorece o aprendizado e a troca de experiências”, conta a produtora Amanda. 

Outra grande dificuldade para a Rinha é manter o coletivo organizado, com uma gestão horizontal e superando os obstáculos que teimam em surgir. “Acho que a tendência é que esta área se profissionalize e quem já está em campo se especialize mais e mais, já que a Rinha e outros eventos e artistas estão cada vez mais completos e sofisticados. O público sente a diferença na qualidade”, comenta Savana Azolini, responsável pela comunicação.

Como a Rinha não é só sobre seriedade, mas também tem sua boa porção de entretenimento, DanDan lembrou de uma história engraçada e clássica. O ano era 2007 e o envolvido não poderia ser outro, a não ser Emicida, que estava numa batalha com um MC que tinha acabado de sair do processo de “privação de liberdade”. “A deixa perfeita para um MC de batalha, umas das pancadas versadas do Emicida era "suas tatuagens não são de verdade, são feitas de canetinha”. O cidadão foi perdendo o controle e lançou a famosa frase: ‘Xande pega as arma no mato’. Lógico não aconteceu nada, afinal estávamos em um entretenimento, em um contexto de Batalha de MC, mas os delírios e risos foram garantidos e ficou marcado na memória de quem esteve presente, além de ser uma história contada até hoje!”, relembra.

Assim como Parteum pontuou em “A Fórmula”, música de seu primeiro disco que completa 10 anos, Raciocínio Quebrado, DanDan também acredita que os fundamentos do Hip-Hop precisam ser respeitados e compreendidos, sua história precisa ser conhecida, assim como sua importância para a sociedade. “Eu penso que se você está em um deserto com muita sede e te oferecem água suja, sem outra opção você vai beber sem questionar. Nosso papel não só como Rinha dos MC’s, mas como membros dessa cultura maravilhosa chamada ‘Hip Hop’ é ao menos despertar a percepção desses jovens para que possam questionar realmente o que é apresentado pra eles. É trazer os elementos e sua história pra se entender o porquê surgiu essa cultura e qual a sua importância na sociedade”, reflete DanDan.

Como a Rinha dos MC’s é e sempre foi livre, sem assuntos específicos para as batalhas, o temas consciência negra virá por meio da própria atmosfera do evento, que irá propor o entendimento da importância da data. “Não vamos propor um evento de data comemorativa e sim de muita reflexão sobre o que conquistamos desde a luta histórica de Palmares até os dias de hoje, quais os avanços precisamos percorrer e reforçar o papel fundamental dessa juventude de hoje pra essa causa tão importante no nosso país, na constituição do nosso povo”, aponta Amanda. Sobre o que esperar dessa festa de aniversário, DanDan responde de bate-pronto. “Muita ideia, muito som, muito protesto, muito sorriso, muita arte, muitos sonhos, muita diversão, fomento a mais cultura, ocupação do espaço que é do povo, e é lógico, a batalha mais suja de SP. Por aqui só um canta de galo e o resto é…???”.


Programação Rinha dos MC’s 9 anos  
16h
 – Discotecagem DJ Marco e DJ Dipper
17h – Danças Urbanas com DarealBeatCompany
17h40 – Batalha de MC’s com premiação
19h – Show Criolo e DanDan (formato DJ + MC)  

Quando? 22 de novembro, das 16h às 21h30
Onde? Centro Cultural da Juventude – CCJ Endereço: Avenida Deputado Emílio Carlos, 3641 – Vila Nova Cachoeirinha
Telefone: (11) 3984 -2466
Quanto? Entrada gratuita.
ccjuve.prefeitura.sp.gov.br 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

sete − quatro =